Beterraba Leitora: Daenerys V

A Fúria dos Reis

Victor
21 min readMay 8, 2023
Ilustração em tons de verde de uma cidade medieval vista de baixo, com casas e um castelo ao fundo. No centro, atravessando o arco de um portão, alguém que parece ser Tyrion Lannister anda com o auxílio de uma bengala
Capa de A Fúria dos Reis

Hodor!

Boa tarde, Beterrabas! Hoje veremos o quinto e último capítulo da Daenerys no livro, dando as costas para a cidade de Qarth.

Daenerys se vê indesejada em Qarth. Ela visita as docas em busca de um navio e sofre um atentado, sendo salva por Arstan Barba-Branca e Belwas o Forte, dois enviados por Illyrio. Com os três navios enviados pelo magíster, e ela decide partir de vez da cidade.

Conteúdo & Discussão

Sendo o quinto e último capítulo de Dany, ficou um ar de “só isso” no capítulo. Diferente de AGOT, ACOK tem muito os ares de um arco de capítulos que entraram para desenvolver o arco de Daenerys, mas sem o final bombástico que tivemos com o nascimento dos três dragões.

Indesejada

Começamos com Dany fazendo um desjejum (sopa de caqui e camarões; e o pior é que tenho uma curiosidade se essa sopa é boa…) enquanto pensava em toda a perda de tempo que foi visitar os puronatos e toda a viagem de ácido que foi a visita à Casa dos Imortais. Agora, pensando sobre o seu futuro, ela deseja ir às docas de Qarth e lá achar um navio.

Enquanto pensava sobre, Dany decide ir vertida a caráter de khaleesi: se os qarthenos viam ela e seu pequeno khalassar como um bando de selvagens, que ela se mostrasse como uma dothraki selvagem. Uma curiosidade da vestimenta é a sineta de prata pendurada à moda dothraki nas tranças de Dany pelas mãos de Jhiqi. Quando perguntou à aia da razão, ela respondeu singelamente com um “Queimou os maegi na sua casa de poeira e enviou suas almas para o inferno” (01, p. 561).

E embora ela quisesse corrigir dando a vitória para Drogon, ela ponderou segurar a língua, fazendo com que os dothraki estimassem-na ainda mais. Enquanto ia com sua guarda para as docas, deixou Rakharo como guarda de seus dragões, enquanto Jorah, Aggo e Jhogo a seguiam.

Ela sai do bairro chique de Qarth, encontrando casas de tijolo, poucos cavalos e camelos, nenhum palanquim, e muita gente pobre na rua: crianças, pedintes e homens pálidos com saias poeirentas de linho os encaravam torto. Aliás, aparentemente, Qarth tem uma população de vira-latas caramelo! A descrição diz serem cães esquálidos cor de areia. Eu imagino aquele cãozinho vira-lata magrelo de doente (deu até pena).

Em meio ao caminho para as docas, ela se relembra do passado e da sua simbologia na vida.

Não era por escolha própria que procurava a costa. Estava de novo em fuga. Toda sua vida tinha sido uma longa fuga, ao que parecia. Começara a fugir ainda no ventre da mãe, e nunca parou. Quantas vezes tinha se esgueirado com Viserys na calada da noite, não mais do que um passo à frente dos assassinos contratados do Usurpador? Mas era fugir ou morrer. (01, p.561)

Ela então relembra de uma conversa com Xaro alertando-a sobre os planos de Pyat Pree e seus amiguinhos sobreviventes para fazer o mal cair sobre a garota.

O diálogo é interessante. Vejam:

— Não foi você quem me disse que os feiticeiros não eram mais do que velhos soldados, gabando-se vaidosamente de feitos esquecidos e capacidades perdidas?
Xaro fez uma expressão de desconforto:
— E assim era naquele momento. Mas, agora? Não tenho tanta certeza. Dizem que as velas de vidro estão ardendo na casa de Urrathon, o Caminhante da Noite, velas que não ardiam havia cem anos. Erva dos fantasmas cresce no Jardim de Gehane, foram vistas tartarugas fantasmagóricas levando mensagens entre as casas sem janelas na Via dos Magos, e todos os ratos da cidade andam cortando a cauda com os dentes. A esposa de Mathos Mallarawan, que um dia caçoou da pesada toga de um mago roída pelas traças, enlouqueceu e recusa-se a usar qualquer tipo de roupa. Até sedas recém-lavadas fazem-na sentir que um milhar de insetos andam rastejando sobre sua pele. E Sybassion Cego, o Comedor de Olhos, voltou a ver, ou pelo menos é o que os escravos dele juram. Um homem tem de refletir — ele suspirou. — Vivemos tempos estranhos em Qarth. E os tempos estranhos são ruins para o comércio. Magoa-me dizê-lo, mas talvez fosse melhor se abandonasse Qarth por completo, e quanto mais depressa, melhor — Xaro afagara seus dedos tranquilizadoramente. — Mas não tem de ir só. Teve visões sombrias no Palácio de Poeira, mas Xaro sonhou sonhos mais luminosos. Vejo-a deitada, feliz, com um filho ao peito. Navegue comigo em torno do Mar de Jade, e ainda podemos tornar o sonho realidade! Não é tarde demais. Dê-me um filho, minha doce canção de alegria!
O que você quer pedir é que lhe dê um dragão.
— Não casarei com o senhor, Xaro.
A expressão dele tornou-se fria ao ouvir aquilo.
— Então parta.
— Para onde?
— Para algum lugar longe daqui. (01, p. 562, grifo meu, ver Momento Ned Pomba)

Enquanto ela digere a antipatia de Xaro, Dany relembra do povo que a acolheu: os dothraki são um povo guerreiro, que vive sobre os cavalos, não preso numa cidade como Qarth, que sempre promete mais do que de fato dá. E agora, após a Casa dos Imortais ruir em fogo e fumaça, de repente o povo de Qarth se lembrou do perigo que dragões representam.

Por conta dessa situação toda, a Irmandade Turmalina pediu abertamente pela saída dela e seu khalassar, enquanto a Antiga Guilda das Especiarias pediu pela sua morte, e Xaro não conseguia mais controlar os Treze.

Ela então se pergunta: para onde ir?

Jorah disse para irem para o leste e longe dos inimigos que tinam em Westeros.

Seus companheiros de sangue preferiam voltar ao Mar Dothraki mesmo que significasse enfrentar a Desolação Vermelha. Dany até brinca em se instalar em Vaes Tolorro e esperar os seus dragões se tornarem grandes e fortes.

E dentre todas as opções cogitadas, “tinha o coração cheio de dúvidas. Sentia que cada uma daquelas opções era de algum modo errada… E mesmo quando decidisse o lugar para onde ir, a questão de como chegar lá
permaneceria um problema.
” (01, p. 562).

Na noite em que a moça disse ao Mala Supremo do Universo que partiria, ela o suplicou um último favor.

— Um exército? É isso? — Xaro perguntou. — Uma caldeira de ouro? Uma galé, talvez?
Dany corou. Odiava pechinchar.
— Sim, um navio.
Os olhos de Xaro cintilaram com um brilho tão intenso como o das joias que trazia no nariz.
— Eu sou um mercador, Khaleesi. Portanto, talvez devêssemos não voltar a falar de presentear, e sim de comerciar. Por um de seus dragões, obterá dez dos melhores navios de minha frota. Só tem de proferir uma doce palavra.
— Não — ela disse.
— Infelizmente — soluçou Xaro — não era essa a palavra a que me referia.
— Pediria a uma mãe que vendesse os filhos?
— E por que não? Podem sempre fazer mais. As mães vendem os filhos todos os dias.
— A Mãe de Dragões não.
— Nem mesmo por vinte navios?
— Nem por cem.
A boca dele retorceu-se.
— Não possuo cem. Mas você tem três dragões. Dê-me um, em troca de toda a minha bondade. Ainda ficará com dois, e com trinta navios. Trinta navios seriam suficientes para desembarcar um pequeno exército na costa de Westeros. Mas eu não tenho um pequeno exército.
— Quantos navios possui, Xaro?
— Oitenta e três, sem contar a minha barca do prazer.
— E os seus colegas nos Treze?
— Entre todos, talvez mil.
— E a Guilda das Especiarias e a Irmandade Turmalina?
— Suas insignificantes frotas não têm importância.
— Mesmo assim, conte-me.
— Mil e duzentos ou mil e trezentos da Guilda, não mais de oitocentos da Irmandade.
— E os asshai’i, os braavosianos, os homens das Ilhas do Verão, os ibbeneses e todos os outros povos que navegam pelo grande mar salgado, quantos navios possuem? Todos juntos?
— Muitos e mais ainda — ele respondeu com um ar irritado. — O que importa?
— Estou tentando estabelecer um preço para um dos três dragões vivos que há no mundo — Dany sorriu docemente. — Parece-me que um terço de todos os navios do mundo seria um preço justo.
As lágrimas de Xaro correram por seu rosto, de ambos os lados do nariz incrustado de joias.
— Não a alertei para que não entrasse no Palácio de Poeira? Era precisamente isso que temia. Os sussurros dos magos deixaram-na tão louca quanto a esposa de Mallarawan. Um terço de todos os navios do mundo? Pah. Pah, digo eu. Pah. (01, p. 563)

Primeiro de tudo: eu adorei o preço que Dany deu para seus filhos. E nada realmente mais justo: um terço dos navios do mundo para um terço dos dragões vivos.

Segundo: vemos aqui que Dany, apesar de desprezar em algum grau o Viserys, ela herdou algo dele. E é o orgulho (e aversão) a ter de pechinchar. Vivendo como pedintes fugitivos das adagas enviadas por Robert, os dois irmãos sempre viajaram por Essos (em específico as Cidades Livres), ainda mais depois de Braavos. Viserys, sempre a lembrando que era do sangue da antiga Valíria, uma Targaryen da linhagem de Aegon I, o Conquistador, parte daquele orgulho entremeou-se em Dany, gostando disso ou não. E se nos lembrarmos, todo o seu casamento com Drogo ainda é muito recente, e ela foi poderosa e se sentiu amada e importante (não que agora não o seja).

Então, ver-se neste estado de pedinte, como vira tanto o irmão mais velho, deve tê-la incomodado como incomodava ao irmão.

Depois dessa conversa, Xaro sequer se deu ao trabalho de conversar com ela: era tudo feito por intermédio do seu senescal, que até avisou para devolver todos os presentes dados a ela.

O interessante é que aqui ela se recorda de algo dito a ela na Casa dos Imortais: as três traições (uma por sangue, uma por ouro e uma por amor). Mirri Maz Duur fora a do sangue. Pyat Pree e Xaro seriam a segunda e terceira traições, respectivamente? Assim como eu, ela acha que não.

A cena muda, de volta ao presente, e Dany está na rua do bairro das docas, se lembrando de outra coisa dita pelos Imortais: “Filha de três, tinham-na chamado, filha da morte, matadora de mentiras, noiva do fogo. Tantos
três. Três fogos, três montarias a montar, três traições.” (01, p. 564).

Ela então tem uma conversa interessantíssima com Jorah:

— O dragão tem três cabeças — suspirou. — Sabe o que isso quer dizer, Jorah?
— Vossa Graça? O símbolo da Casa Targaryen é um dragão de três cabeças, vermelho sobre fundo negro.
— Eu sei. Mas não existem dragões de três cabeças.
— As três cabeças eram Aegon e as irmãs.
— Visenya e Rhaenys — ela recordou. — Descendo de Aegon e Rhaenys através de Aenys, seu filho, e de Jaehaerys, seu neto.
— Lábios azuis só dizem mentiras, não foi o que Xaro disse? Por que se importa com o que os magos sussurraram? Agora sabe que tudo o que queriam era sugar sua vida.
— Talvez — ela disse relutante. — Mas as coisas que vi…
— Um homem morto na proa de um navio, uma rosa azul, um banquete de sangue… O que significam essas coisas, Khaleesi? Falou de um dragão de pantomimeiro. O que é um dragão de pantomimeiro, diga-me?
— Um dragão de pano montado em varas — Dany explicou. — Os pantomimeiros usam-nos em seus espetáculos, para dar aos heróis algo com que lutar.
Sor Jorah franziu a testa.
Dany não conseguia abandonar o assunto.
É sua a canção de gelo e fogo, disse meu irmão. Tenho certeza de que era meu irmão. Não Viserys, Rhaegar. Tinha uma harpa com cordas de prata.
O franzir de testa de Sor Jorah aprofundou-se tanto que as sobrancelhas se juntaram.
— O Príncipe Rhaegar tocava uma harpa assim — ele anuiu. — Viu-o?
Ela confirmou com a cabeça.
— Havia uma mulher numa cama, com um bebê no peito. Meu irmão disse que o bebê era o príncipe que havia sido profetizado e falou à mulher para chamá-lo Aegon.
— O Príncipe Aegon era herdeiro de Rhaegar, filho de Elia de Dorne — disse Sor Jorah. — Mas se era ele o príncipe da profecia, esta foi quebrada com o seu crânio, quando os Lannister atiraram sua cabeça contra uma parede.
— Eu me lembro — a voz dela soou triste. — Também assassinaram a filha de Rhaegar, a princesinha. Chamava-se Rhaenys, como a irmã de Aegon. Não
havia uma Visenya, mas ele disse que o dragão tem três cabeças. O que é a canção de gelo e fogo?
— Não é nenhuma canção que eu tenha ouvido.
— Fui encontrar os magos esperando respostas, mas em vez disso deixaram-me com uma centena de novas perguntas. (01, p. 564)

Vemos que a experiência com os magos não foi digerida ainda, fora que as visões ainda reverberam na memória de Dany, especialmente a simbologia do número três e a dita Canção de Gelo e Fogo.

Eu disse em Daenerys IV que Martin podia ter já pensado no embrião do que vimos em House of the Dragon, onde Viserys I conta para Rhaenyra sobre a canção e toda a simbologia passada de rei Targaryen para o seu sucessor. E aqui, particularmente, acredito que foi o primeiro broto dessa semente. No que se tornou, imagino, tenha sido o que vimos na série da HBO: uma profecia, da qual sabemos que Rhaegar era pirado das ideias sobre. Não julgo sobre ser um retcon safado (até porque, se até o Tolkien mudava volta e meia as coisas que ele criava nos escritos a ponto de ter conflito, quem sou eu pra julgar o Martin?).

Por fim, Aggo os avisam que o cheiro do mar está presente.

Buscando um Navio

Assim que chegaram às docas, Dany faz uma descrição muito grande dos portos qarthenos, muito movimentados por estarem no meio do caminho entre o leste e o oeste de Planetos (tipo o estreito de Bósforo, em Istambul, na Turquia). Inclusive, a descrição do cheiro do lugar é maravilhosa (#Sarcasmo): “O ar cheirava a sal e a peixe frito, a alcatrão quente e a mel, a incenso, óleo e esperma.” (01, p. 565).

Enquanto passavam pelo meio da multidão, Dany via diversos navios e barcas descarregarem (ou carregarem) suas mercadorias. Ela então desceu da prata dela e pediu a Aggo e Jhogo cuidarem dos cavalos.

Andando por aquela parte do porto, onde os navios das Ilhas do Verão, de Westeros e das Cidades Livres eram permitidos, a garota se sentiu em casa ouvindo o povo falando valiriano e o idioma comum. E no meio desse povo todo, Sor Jorah se vestia com uma capa de lã e cota de malha (essa roupa devia tá fedendo um horror…).

Ela tentou pedir passagem com diversos navios, mas não conseguiu.

O primeiro não acreditou que ela fosse Daenerys de fato, a ponto do capitão do Trombeteiro dizer que era o próprio Tywin Lannister.

O dono da galé de Myr, Espírito da Seda, disse que não aceitaria porque dragões eram perigosos demais.

No Barriga de Lorde Faro, os dragões foram aceitos, mas os dothraki não.

Dois irmãos gêmeos, capitães do Mercúrio e do Galgo, chamaram ela para a cabine beber um copo de tinto da Árvore e foram corteses, mas o preço que pediram era muito alto.

Os barcos Petto Beliscão e Donzela dos Olhos Negros eram muito pequenos. Bravo iria para o Mar de Jade (a leste), e Magíster Manolo estava uma lástima para navegar.

Nisso, enquanto seguiam pelo porto, Jorah a avisou: estava sendo seguida.

Atentado

Para disfarçar que notaram a presença dos perseguidores, Jorah e Dany param numa barraquinha de venda de itens de latão e outros metais. Ele pega um espelho de latão e mostra disfarçadamente pelo reflexo quem vinha atrás dos dois: um homem gordo (apesar de o livro usar a expressão mulato, acho um tanto complicado de usá-la deliberadamente, então vou evitar ao máximo e usá-la apenas nas transcrições do livro que tenho) e um velho. Ambos seguiam desde o Galgo.

Enquanto os dois conversavam, o vendedor começa a regatear o produto para a Khalessi. O mais divertido foi ler as interações de Dany com o vendedor para disfarçar a sua conversa com Jorah. A cada frase, mais ela conseguia de desconto.

Enquanto Dany só pisa no vendedor que começa a ficar mais e mais desesperado para vender o espelho, ela nota mais detalhes da dupla. O velho tinha a face típica de Westeros, e o gordo de pele escura devia pesar mais de cem quilos. Este, aliás, tinha um arakh pendurado na faixa da cintura. Vestia um colete (que do jeito que se descreve, era um micro-coletinho de tachos de metal) e só as calças, nada mais. Tanto que acima da faixa da cintura ele tinha uma pequena miríade de cicatrizes.

Já o velho usava um manto de viajante, feito de lã crua, com capuz abaixado. Ele era descrito com cabelos e barbas brancos e longos, usando um bastão como apoio para andar.

Dany e Jorah conversam mais sobre os dois, e o vendedor tem quase um faniquito. Ela acaba comprando o espelho (mais pro homem não se matar só tentar vender algo para ela), e enquanto pescava as moedas para pagar, um qartheno apareceu e entregou uma caixa de joias a Dany.

A moça aceitou o presente quase no automático, abrindo a caixa e vendo um escaravelho cintilante em ônix e esmeralda. Nisso o qartheno manda um “sinto muito”, e aconteceu muito rápido.

O escaravelho desenrolou-se. Uma face maligna e escura, e uma cauda pingando veneno… Mal deu tempo de ver a forma da coisinha e a caixa voou da sua mão. Aggo e Jhogo vieram quando viram que o caos se instaurou. O velho apareceu do lado dela, espetando o cajado no chão. Jorah usou o espelho de metal na cabeça do homem gordo.

E enquanto estava ajoelhado diante de Dany, o velho pediu perdão a ela, além de perguntar se estava com a mão quebrada. Nem bem respondeu que não quebrou a mão e Aggo e Jhogo imobilizaram o velho, perguntando se queria ver a cor do sangue dele. Jorah foi derrubado e a espada dele e o arakh do outro foram puxados.

Dany então se interpõe entre eles, exigindo calma e que guardassem suas armas.

Jorah não entende, alegando que atacaram Dany, mas ela explica que os dois salvaram ela do Homem Pesaroso (ver Momento Ned Pomba). Ela viu o estado do mercador, que não era dos melhores, e pagou com uma moeda de prata pela situação toda.

Arstan se apresenta (ver Momento Ned Pomba), dizendo que Barba Branca era um apelido que Belwas, o Forte, deu a ele na viagem. Ele nos conta que era escravo, vendido por algumas das Cidades Livres, terminando em Pentos, comprado por um homem que tinha um fedor doce no cabelo.

Ela pergunta se foi Illyrio quem os enviou, e Barba Branca confirma. Aliás, ele está falando em valiriano quase toda a resposta, falando o idioma comum quando foi pedir desculpas.

Dany notou e perguntou se era de Westeros, sendo confirmado, contando aí que ele nasceu nas Marcas de Dorne, sendo escudeiro de um cavaleiro da Casa Swann, e agora era escudeiro de Belwas.

Jorah pergunta se ele não era velho demais para servir como escudeiro, e o velho diz que não era velho o suficiente para servir seu suserano. Inclusive, chamou-o de Lorde Mormont. O que nos dá uma pista de sua identidade, ainda mais quando diz que o viu em Lannisporto, quando quase derrubou o Regicida, e na rebelião de Pyke. O Mormont não consegue se lembrar de onde conhecia aquele rosto.

Há uma troca de animosidade rápida entre Belwas e os ko de Dany, mas logo ela desconversa, perguntando o que Illyrio queria. E Belwas responde que ele queria os dragões e a mãe que os fez.

Arstan a atualiza com a morte de Robert e os quatro reis que guerreavam no continente, o que aliviou e muito ela.

Quando comentou do seu grupo de cem pessoas, posses e dragões, Belwas disse que não importava: Illyrio contratou três navios para levá-la. Dany faz uma associação com a frase “três cabeças tem o dragão, aceitando o presente com uma condição: teriam nomes diferentes.

Vaghar.

Meraxes.

Balerion.

Momento Ned Pomba

Gente, o Momento Ned Pomba de hoje é gigante (parece até que a Dany gosta de ter uns capítulos com umas teorias longas). E quase tudo gira no entorno do atentado à vida da moça nas docas qarthenas.

Temos duas vertentes que podem mostrar quem foi o mandante. Uma, mais óbvia, seria a mando de Xaro Xhoan Daxos.a outra foi um sujeito chamado Urrathon, o Caminhante da Noite, que pretendia tomar os dragões para si.

Antes de começar, um recado prévio: a teoria do Xaro mandante está no subreddit gringo d’As Crônicas de Gelo e Fogo, então vou colocar aqui o link para a página (inclusive, quem fez a teoria foi o usuário brittanytobiason, nos comentários), além de traduzir a teoria pra PT-BR porque ninguém é obrigado a ler algo em outra língua.

A teoria do Urrathon, vista aqui neste link, pode ser lida no Valíria, trazida a nós por aquela alma iluminada que já citei aqui antes: o usuário Alto Valiriano. Novamente, obrigado, meu querido, pela ajuda!

Assim, vamos às duas teorias.

Ordens de Xaro

Lamento dizer que minha aposta é que não veremos os Homens Pesarosos novamente. Digo isso porque acho que Xaro mandou o Homem Pesaroso responsável pelo atentado a Daenerys nas docas. Realmente não há nenhuma prova e duvido que alguma venha à tona. Ainda assim, do jeito que eu leio, os Homens Pesarosos contribuem para o tema dos verdadeiros assassinos neutros, como os Homens Sem Rosto deveriam ser, e sugerem que a extensão em que Xaro traiu Dany em Qarth foi muito maior do que apenas propor casamento para um dragão.

O plano de Xaro para adquirir os dragões de Dany parece ter sido assim:

1 — Traga os dragões para sua própria mansão. As paredes concêntricas da cidade sugerem que está entrando numa armadilha.

2 — Estabeleça uma expectativa pública de que os dragões vivem lá porque estão em exibição lá. O show secundário também convenceria Daenerys de que ela ganha com sua generosidade e ainda está livre. Quanto mais os dragões vivem na mansão de Xaro, mais parece normal que eles estejam lá.

3 — Convencer Daenerys a ir à falência usando do show secundário dos dragões tentando subornar os Puronatos. Pela maneira como ele reage quando ela diz que quer seus subornos de volta porque os homens que ela subornou não falaram por ela, parece que as medidas que Xaro recomendou não resultaram no suborno dos Puronatos. Se Jorah investigasse, ele provavelmente descobriria a real alocação dos fundos, que Xaro não queria que Dany soubesse.

E os homens que compramos, o que disseram?

— Mathos não disse nada. Wendello elogiou meu modo de falar. O Requintado recusou-me como os outros, mas depois chorou.

— É uma infelicidade que esses qarthenos sejam tão pouco confiáveis — o próprio Xaro não pertencia aos Puronatos, mas tinha lhe dito quem subornar e quanto oferecer. — Chore, chore, pela deslealdade dos homens.

Mais depressa Dany choraria por seu ouro. Os subornos que oferecera a Mathos Mallarawan, Wendello Qar Deeth e Egon Emeros, o Requintado, podiam ter servido para comprar um navio ou para contratar vinte mercenários.

— Suponhamos que eu mande Sor Jorah exigir a devolução de meus presentes? — ela perguntou.

— Suponhamos que um Homem Pesaroso venha ao meu palácio uma noite e a mate enquanto dorme […] (01, p. 372)

Xaro convenceu Daenerys a usar um colar desconfortável com uma ametista supostamente encantada, para:

Os Puronatos eram conhecidos por oferecer vinho envenenado àqueles que consideravam perigosos, mas não tinham dado a Dany sequer uma taça de água. Nunca viram em mim uma rainha, pensou amargamente. (01, p. 371)

Parece que Xaro sabia que os Puronatos nunca ofereceria uma bebida e enviou Daenerys a eles para ficar desapontada.

— Seria a tristeza de um sonho perdido? (01, p. 371)

Daenerys deveria se desesperar e não ter ninguém além de Xaro a quem recorrer.

4 — Com Daenerys e seus dragões em suas paredes, e ela sem ter como pagar os navios, Xaro então oferece duas opções: ela pode se casar com ele e se separar de pelo menos um dragão legalmente, ou recusá-lo e, “quebrando seu coração”, ser convidada a partir sem os meios para realmente fazê-lo. O último acontece e Xaro começa a enviar mensagens cada vez mais frias sobre não querer mais alimentar seu povo. Se Daenerys se recusar a se casar com ele ou trocar um dragão por navios, ele pode expulsar seu povo friamente, especialmente se ela morrer repentinamente.

— …Dê-me um filho, minha doce canção de alegria!

O que você quer pedir é que lhe dê um dragão.

— Não casarei com o senhor, Xaro.

A expressão dele tornou-se fria ao ouvir aquilo.

— Então parta.

— Para onde?

— Para algum lugar longe daqui. (01, p. 562)

5 — Envie um Homem Pesaroso para matá-la antes que Daenerys possa partir, incriminando alguma facção rival.

Xaro soube que Pyat Pree estava reunindo os feiticeiros sobreviventes para fazer o mal cair sobre ela. (01, p. 561)

Se o Homem Pesaroso com a manticora nas docas tivesse conseguido matar Daenerys, a maioria presumiria que ele foi enviado pelos Imortais. Xaro teria continuado a pressionar o povo de Dany para sair, mas não permitiu que levassem os dragões. Mesmo que alguns dothraki estivessem dispostos a morrer para proteger os dragões de Dany, eles seriam facilmente dominados. Ou, francamente, poderia continuar protegendo-os. Quando os dragões entrassem na casa de Xaro, eles se tornaram seus quase legalmente. Tudo o que realmente tinha que acontecer era que Dany morresse de forma pública com outro suposto responsável.

O Homem Pesaroso e Xaro estão associados de várias maneiras circunstanciais, desde seu nome soando como “pesar” até a manticora na caixa lembrando os muitos presentes de Xaro para Dany. Claro, muitas partes competiam para ganhar o favor de Dany com presentes em Qarth. Xaro nem é o único qartheno a chorar quando ela recusa seu pedido de ajuda. Não está claro se a maioria das informações de Dany vem de Xaro, como parece suspeito, ou se seus Dothraki e Jorah estão trazendo informações de volta, como os vemos fazer em Daenerys III. O que foi dito acima continua sendo pura especulação.

Urrathon, o Caminhante da Noite

Primeiro de tudo: quem é Urrathon, o Caminhante da Noite? A teoria que vi diz ser Euron Greyjoy.

Urrathon é citado primeiramente lá no começo do capítulo, como se não fosse nada, em meio à citação das velas de vidro sendo acesas. Isso dá a impressão de que Urrathon é um qartheno, e nada mais. Mas, antes de desprezar isso, levantemos uns detalhes.

Começaremos pela história das Ilhas de Ferro. Especificamente, em O Mundo de Gelo e Fogo, no capítulo Ilhas de Ferro: Coroa de Madeira trazida pelo mar. Lá sabemos que um rei chamado Urragon III Greyiron faleceu e seus filhos convocaram uma assembleia dos homens livres. Ironicamente, nenhum dos filhos de Urragon III foi escolhido, mas sim um tal de Urrathon IV Goodbrother. E o que ele fez quando foi eleito? Mandou matar todos os filhos do falecido Greyiron, ganhando assim a alcunha de Irmão Mau (mesmo sem ter parentesco).

Em ADWD, no capítulo A Noiva Rebelde, vemos essa citação de Torgon (filho de Urragon Greyiron), e Urrathon Goodbrother, o Irmão Mau. E mesmo que o Martin tenha tentado fazer uma cortina de fumaça sobre uma possível informação dada com a língua nos dentes, é difícil não notar os paralelos entre Urrathon e Euron Greyjoy.

Aliás, em AFFC, quando conhecemos a figura do Euron, ele comenta que pegou um barril de sombra da tarde de um galé qarthena, fora que ele também é um colecionador de itens mágicos, como o berrante (Atador de Dragões), ter tido um ovo de dragão e até mesmo [ATENÇÃO: SPOILER DE OS VENTOS DO INVERNO!] uma armadura de aço valiriano. Então, ter velas de vidro (obsidiana) não é estranho para ele. A teoria discorre mais um pouco, mas por questão de tamanho do texto, recomendo que ler o post original, para ver mais indícios da identidade de Urrathon, Caminhante da Noite.

Então, o que diabos Euron fazia ali em nas docas? Bem, sabemos que ele estará tentando cortejar Dany quando enviou Victarion para Meereen junto do Atador de Dragões. Esta primeira vez, em Qarth, poderia ser a tentativa dele de tomar os dragões de Dany para si, mas falhou por conta de Arstan Barba Branca.

Particularmente, prefiro a teoria de que Xaro foi o mandante do atentado.

E por falar no velhinho Barba Branca, temos uma “teoria” extra.

O interessante é saber da identidade verdadeira do Arstan Barba Branca. Caso não queira saber quem ele é, dá uma pulada pro próximo momento.

O velho disse que conheceu Jorah em Lannisporto. Se formos lá em ACOK, no capítulo Daenerys I (01, p. 130), veremos Sor Jorah contando do torneio de Lannisporto onde ele foi maravilhoso nas justas, ganhando a atenção de Lynesse Hightower. Depois, sabemos que o velho o viu na rebelião de Balon Greyjoy, em Pyke.

Então, fica a questão: quem esteve nos dois eventos (e de fora do Norte) para conhecer Sor Jorah?

Arstan é ninguém menos que Barristan Selmy, o antigo Lorde Comandante da Guarda Real, o Ousado (e despojado do cargo). Ele escolheu o nome de seu sobrinho-neto, atual senhor de Solar das Colheitas, a sede da Casa Selmy.

Momento Geografia

Bem, já sabem, não é? O mapa é o mesmo de Daenerys III.

Momento Valar Morghulis

Apesar da manticora ter morrido pelo cajado do Arstan Barba Branca, continuamos com as 152 mortes.

Momento Joffrey

As aparições da criatura insuportável do Xaro Xhoan Daxos é sempre um momento irritante. Ainda mais depois que você descobre que ele era gente boa, mas nem tanto.

Momento Dracarys

O capítulo, por mais morno que foi, mostrou um final muito interessante nas docas. Mas, para mim, o que melhor repercutiu dele foram as teorias do atentado à vida de Dany. Junto disso, toda a cena do mercador se desesperando para vender um espelho de latão é muito engraçada também.

Imagem do mascote da coluna, Beterrabita. É o emoji do nerd de óculos e dentuço sorrindo, mas com a parte amarela pintada toscamente no paint num tom vermelho-beterraba e a armação do óculos pintada em tom verde-folha
Diga “oi” para a Beterrabita

Dúvidas, críticas ou sugestões? Então vai lá no grupo do Hodor Cavalo, procura pela #BeterrabaLeitora e faz lá o seu comentário. Dia 12/05 eu farei outra coluna aqui no medium, respondendo as suas questões (se tiverem).

Na próxima Beterraba Leitora (dia 26/05), teremos o capítulo Arya X, o último capítulo dela no livro.

Hodor!

Referências

01 — MARTIN, George R. R. As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis. Tradutor Jorge Candeias. 13ª reimpressão. São Paulo: Editora Leya, 2011.

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