Beterraba Leitora: Daenerys III

A Fúria dos Reis

Victor
11 min readMay 27, 2022
Ilustração em tons de verde de uma cidade medieval vista de baixo, com casas e um castelo ao fundo. No centro, atravessando o arco de um portão, alguém que parece ser Tyrion Lannister anda com o auxílio de uma bengala
Capa de A Fúria dos Reis

Hodor!

Boa tarde, Beterrabas. Hoje conversaremos sobre o capítulo Daenerys III, um capítulo cheio de protocolos, burocracia e frustrações. Vamos lá!

Depois de visitar os Puronatos, Dany se vê sem ajuda qarthena e Xaro Xhoan Daxos insiste que eles se casem. No caminho de volta à mansão, ela vê uma demonstração de magia e conversa com Quaithe. Já na mansão, ela conversa com Sor Jorah e decide ir à Casa dos Imortais.

Conteúdo & Discussão

A Burocracia (só uma pergunta: pra quê?)

Comecemos o capítulo com uma Dany cansada de tanto andar e não chegar a lugar nenhum. A narração é chata para um cocô voador (que me perdoem o trocadilho), tamanha é a quantidade de protocolos xexelentos pra falar com o povinho dos Puronatos. Vestir o crocs de veludo pra entrar no salão supremo da chatice protocolar, molhar a mão do mala certo, entre outras mil coisas chatas, tudo para que Dany estivesse lá com Rhaegal em seus ombros e eles com cara de paisagem. Inclusive, Dany comenta que de nada adiantou colocar o vestido da moda qarthena de peitinho de fora (ver Momento Hodor Pau de Cavalo mais abaixo): ela bem que poderia estar pelada que não atenderiam ao apelo dela. Sério, eu tive um treco lendo esse capítulo: pareceu o mesmo que abrir CNPJ no Brasil ou entrar com um processo na Defensoria Pública da sua cidade, um inferno burocrático só!

O que aquele povinho todo queria de fato ver era o dragão dela. O pensamento de Dany sobre mostra bem o que sente e passou:

Nunca viram em mim uma rainha, pensou amargamente. Fui apenas o divertimento de uma tarde, uma moça a cavalo com um curioso animal de estimação. (01, p. 371)

Um detalhe curioso sobre a visão de Dany sobre os qarthenos é sobre a competição de medição de pinto, digo, suntuosidade dos tronos ocupados por eles:

Os cadeirões eram imensos, fantasticamente esculpidos, brilhando com os trabalhos em ouro e guarnecidos de âmbar, lápis-lazúli e jade, cada um com diferentes de todos os outros, e cada um tentando ser mais fabuloso que os demais. Mas os homens que neles se sentavam estavam tão apáticos e cansados do mundo que mais pareciam estar dormindo. Ouviram, mas não escutaram, nem se importaram, ela pensou. São mesmo Homens de Leite. Nunca tiveram a intenção de me ajudar. Vieram porque estavam curiosos. Vieram porque estavam entediados, e o dragão no meu ombro interessou-lhes mais do que eu. (01, p. 371–372)

Não sei se você, leitor, notou aqui um paralelo, mas esta cena me lembrou muito o teste da Katniss Everdeen em Jogos Vorazes (filme e livro), quando ela atirou uma flecha na comida do povinho da Capital por estarem ignorando ela. Caso não se lembrem ou não tenham visto a cena, aqui está um link pro YouTube. A diferença, obviamente, reside no fato de Rhaegal não ter voado e cuspido fogo nos Puronatos (o que é uma pena…).

O Mala Supremo do Universo (a.k.a. Xaro Xhoan Daxos)

Temos a conversa de Dany com Xaro Xhoan Daxos no caminho de volta, com ela contando ao mala o que fez e o que os Puronatos fizeram (ou deixaram de fazer). Como Dany precisou dar aquela molhada caprichada na mão dos qarthenos, ela perguntou se tinha como pedir de volta os assim chamados presentes dos políticos. A resposta é interessante: Xaro diz que um Homem Pesaroso (acredito que seja uma guilda de assassinos de Qarth ou região) aparecesse na mansão dele e matasse Dany. Inclusive, segundo o mesmo, “é mais fácil ordenhar a Vaca de Pedra de Faros do que espremer ouro dos Puronatos” (01, p. 372).

Faros, para quem quiser saber, é uma cidade na costa oeste na ilha de Grande Moraq (ver Momento Geografia abaixo), conhecida pela enorme estátua citada.

Esta sensação de incômodo sentida por Dany se dá pelo fato que ela só conseguiu falar com os Puronatos por conta do próprio Xaro, que basicamente agiu como promotor de Dany. Qualquer um que desejasse ver a rainha Targaryen e seus dragões desse um presente ela (um deles, o único que manteve, foi uma coroa representando os três dragões, a imagem está aqui, e caso não consiga abrir este link, tem este aqui).

Ela não deseja vender a coroa por lembrança do passado, quando Viserys precisou vender a coroa da rainha Rhaella, quando os dois eram mais novos. Ela inclusive se compara um pouco com o irmão, Viserys, notando que ela odiava viver como pedinte tanto quanto ele devia ter odiado. Mas ela tem algo que faz toda a diferença: dragões.

Tem mais uma conversa de Dany e Xaro, com o mala da bajulação tentando convencê-la de viajar com ele na sua barca do amor, e pipipi pópópó… sério, é tanta chatice desse Xaro… O teor da conversa gira em torno da possibilidade de Xaro, ou os Treze, ou a Guilda de Especiarias, ou a Irmandade Turmalina dar a ela navios. Mas os Treze não darão, Xaro muito menos, a Guilda e a Irmandade não serão diferentes dos Puronatos. Por fim, Dany comenta sobre Pyat Pree, o carequinha esquisito do batom azul.

Demonstração de Magia (não, não é Hogwarts)

Durante a argumentação dos dois quanto à escolha de ir até Pyat Pree, Dany nota que pararam e Aggo avisa que é um mago de fogo. O pequeno espetáculo mostrado é chamativo, principalmente para quem é de fora da cidade. Um detalhe curioso é que a escada na qual o homem sobe é feita de fogo e se desfaz à medida que ele sobre nela, como se fosse sólida.

É nessa hora que a misteriosa Quaithe dá o ar da sua graça. Temos uma passagem onde ela explica que nem meio ano atrás o homem em questão conseguia acender fogo em vidro de dragão, mas agora conseguia invocar uma escada sólida feita de fogo. E a razão deste feito era a própria Daenerys — fazendo a nossa princesa/Khalessi duvidar da afirmação.

Francamente, eu também duvidaria da afirmação se estivesse no lugar da Dany. Vamos nos lembrar que, por mais que a “canção dos dragões” tivesse extinta havia quase um século e meio, o retorno dessa fonte de magia e poder reacendeu a chama de misticismo de Planetos. O que temos, no entanto, é um Paradoxo de Tostines: os dragões nasceram porque tivemos avistamentos de Caminhantes Brancos (Prólogo de AGoT) ou os Caminhantes Brancos voltaram a ser vistos porque o mundo estava entrando nos eixos para a vinda de novos dragões? Particularmente, eu diria que um pouco dos dois. Toda a cena do Prólogo de AGoT ocorreu em 298 DC, e os dragões aparentemente nasceram entre o final de 298 e começo de 299 DC. A janela de tempo é muito curta para que apenas um evento influenciasse o outro… Mas deixamos esta elucubração de lado por enquanto.

Quaithe, antes de sair de cena, manda uma das suas frases enigmáticas:

— Para ir ao norte, deve viajar para o sul. Para alcançar o oeste, tem de ir para o leste. Para ir em frente, deve voltar para trás, e para tocar a luz, tem de passar sob a sombra. (01, p. 376).

Embora tenha esse “ar de mistério à la Quaithe”, a frase tem mais cara de mandar um verde maquiado de mistério que qualquer piração das frases dela: é bem simples, Dany, segundo a mulher, deve ir até Asshai. A ideia é descartada (ou pelo menos indicada para ser descartada) pelo Rakharo e Aggo, algo que até mesmo Xaro concorda.

Mas fica sempre aquela pulga do tamanho de um elefante: o que teria acontecido ou até mesmo mostrado para a Dany em Asshai? Ela teria conquistado o Trono de Ferro mais cedo? Fica mais um questionamento.

Ouvindo seu Conselheiro

Na mansão, ela se encontra com Sor Jorah, onde o cavaleiro é franco com ela: ali eles nunca conseguirão ajuda. É aqui que ele mostra à sua Khalessi sobre a razão constante de Xaro e Dany se casarem.

Segundo os costumes qarthenos, no dia da união, a noiva pode pedir um penhor de amor ao marido. Qualquer coisa que ele tenha em seus bens terrenos tem de ser dado à noiva, e seja o que for, não pode ser negado. E como em Qarth os homens e as mulheres mantêm suas propriedades depois e se casar, os dragões ficariam sendo de Dany, mas com exceção de um deles (aliás, Cuzão Alert pro Xaro).

Dany comenta que viu Quaithe na volta pra mansão, e Jorah acha que deveriam sair dali, mas não para Asshai (diferente do livro anterior, quando ele cita a cidade um bocado de vezes). Ele sugere irem para o leste, e Dany comenta sobre Illyrio. Jorah retruca, dizendo que ele a venderia pelo preço certo, mas ela rebate, dizendo que ela e o irmão foram hóspedes do pentoshi. Mas Jorah comenta algo que, acho, ela se esqueceu: Illyrio a vendeu para Khal Drogo.

Há mais um diálogo dos dois sobre o magíster, seus hábitos e ambições, além do que ele poderia dar e/ou ajudar Dany a tomar o Trono de Ferro. Jorah inclusive dá uma visão dos senhores westerosi quanto à invasão de Dany aos Sete Reinos com um exército de mercenários que sequer falam o Idioma Comum de lá.

Ela ainda faz uma última pergunta a Jorah, que mostra um detalhe curioso: como que ela pode ganhar a amizade de alguns senhores de Westeros, e Jorah não soube responder, mas soube apontar que o nome Targaryen ainda tem peso e temor nos outros, tanto que mandaram um assassino para Dany quando ainda tinha o filho na barriga. O que fariam com a notícia de três dragões? (Momento Ned Pomba, a seguir).

Por fim, Dany chega à conclusão: o cometa a mandou à cidade por uma razão, mas não para encontrar seu exército. Ela irá, no dia seguinte, à Casa dos Imortais.

Momento Ned Pomba

O capítulo não traz nada de pombístico, nem mesmo a frase com tômperro (como dia Jacquin) místico da Quaithe.

O que eu realmente trago a vocês é a procedência dos três ovos dados como presente de casamento da Dany pelo Illyrio. Em Fogo & Sangue, durante o reinado de Jaehaerys I, temos conhecimento mais aprofundado dos irmãos e irmãs do rei. E uma delas era sua irmã mais velha, Rhaena Targaryen (curiosidade: é por conta dela que uma das torres de Harenhall ganha o nome de Torre da Viúva), esposa de Aegon (filho mais velho de Aenys I, morto pelo tio, Maegor I). Ela basicamente voou de um lado a outro de Westeros em seu dragão, procurando um lugar para morar, mas no fim, foi morar em Pedra do Dragão com suas amigas, uma delas chamada Elissa Farman.

A moça, Elissa, era uma navegadora de espírito inquieto, e encalhada na sede Targaryen, ela se sentiu presa. Então, quando a convivência com Rhaena estava impraticável, ela fugiu da ilha com três ovos de dragão. Sim, não 1, nem 2, mas 3 ovos. E foi para Braavos, onde ela basicamente vendeu os ovos para financiar a construção do seu navio (ela pretendia viajar pelo Mar do Poente e chegar supostamente no outro lado de Essos).

Bem, Rhaena notou o roubo, contou pro irmão, e Jaehaerys mandou sua Mão para Braavos reaver os ovos. O Senhor do Mar de Braavos basicamente mandou um “olha, nem vão chocar comigo, e são umas pedras tão bonitas, não quer vender pra saldar a dívida com o Banco de Ferro?”. Como contam que o enviado acabou aceitando a negociação, o paradeiro dos 3 ovos ficou em aberto, mas não impossível de especular.

Sabemos que Illyrio Mopatis é um homem que dorme na grana. E sendo podre de rico, ele pode muito bem ter comprado os ditos 3 ovos de dragão roubados em 54 DC, e resolvido dar de presente a Dany por algum capricho (mas é certo ele não tinha como saber que ela faria os 3 ovos chocarem). De Braavos até Pentos não é uma distância absurda, e entre o ocorrido e o casamento de Dany, tivemos quase 250 anos para as pedras passearem entre estas duas Cidades Livres.

Momento Geografia

Não temos lá um momento geografia digno de nota. O livro A Fúria dos Reis não traz um mapa de Essos, então achei por bem só marcar onde cargas d’água a Dany e seu khalasar estão. Temos dois mapas, um geralzão e um mais regional da parte de Essos onde Qarth se encontra.

Se olharem bem, Dany tá praticamente do outro lado do mundo, longe pra cacete das Cidades Livres.

Mapa do Mundo Conhecido: Westeros a oeste, como um retângulo de pé e Essos a leste, como um retângulo deitado. Se dividir Essos em 3 partes iguais, Qarth está exatamente na linha entre o terço direito e o terço central, na costa banhada por um estreito. Ao sul, tem uma ilha enorme chamada Grande Moraq.
Mapa do Mundo Conhecido: Qarth, destacada no ponto amarelo e os Portões de Jade, circulados na mesma cor.

No segundo mapa tem o zoom da região, mostrando onde está Qarth e o estreito dos Portões de Jade, que liga o Mar de Jade (leste) ao Mar de Verão (oeste).

Região do Mar de Jade, no extremo leste. Temo Qarth numa península relativamente curta, banhada pelas águas do estreito dos Portões de Jade. Ao extremo leste do mapa está Ashai, ao sul uma ilha enorme chamada Grande Moraq, e banhando estão as águas do Mar de Jade. A oeste, as águas do Mar de Verão.
Mapa do Mar de Jade: Qarth em amarelo e os Portões de Jade em vermelho.

Como citado lá na discussão, Grande Moraq é uma ilha muito grande bem na frente de Qarth, no Mar de Jade. Faros está na costa oeste, no terço mais ao norte da ilha.

Momento Hodor Pau de Cavalo

Se você contar que Dany está com um peitinho de fora por ser a moda de Qarth, então temos um momento Hodor Pau de Cavalo. Se não, fica sem este momento e partimos para o próximo item.

Cuzão Alert

Xaro Xhoan Daxos é muito, muito chato. No segundo livro, todos os diálogos dele com a Dany são um saco, uma lambeção de bola sem tamanho e insuportável demais! Fora que o cretino tenta pedir pela mão de Dany como se os costumes matrimoniais qarthenos fossem os mesmos que os de Westeros. Cuzão Alert pro safado!

Momento Valar Morghulis

Fora a minha vontade de ler o capítulo, nada morreu. Continuamos com 128 mortes.

Momento Joffrey

Meu Momento Joffrey vai para o Xaro Xhoan Daxos. Não fosse o aviso de Jorah sobre a penhora nupcial, Dany perderia um de seus dragões para o malandro cretino.

Momento Dracarys

Te falar que achar algo maneiro nesse capítulo foi complicado… Eu amo os capítulos da Dany, mas tá complicado achar algo legal nesse aqui. A parte mais interessante é a demonstração de magia que Dany presenciou antes de chegar à mansão de Xaro, vendo o cara subir uma escada de fogo e fazendo-a desaparecer. É uma evidência gritante de que o ritual lááááá do último capítulo de A Guerra dos Tronos (HC episódio 74) tá começando a ecoar no mundo, e não é apenas a fofoca de uma pretendente ao Trono de Ferro que possui três dragões.

Imagem do mascote da coluna, Beterrabita. É o emoji do nerd de óculos e dentuço sorrindo, mas com a parte amarela pintada toscamente no paint num tom vermelho-beterraba e a armação do óculos pintada em tom verde-folha
Diga “oi” para a Beterrabita

Dúvidas, críticas ou sugestões? Então vai no grupo do Hodor Cavalo, procura pela #BeterrabaLeitora e faz lá o seu comentário. Dia 17/06 eu farei outra coluna aqui no medium, respondendo as suas questões (se tiverem).

Na próxima Beterraba Leitora (dia 10/06), teremos o capítulo Tyrion IX. Peguem seus escudos que tem merda voando pra todo lado (literalmente)!

Hodor!

Referências

01 — MARTIN, George R. R. As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis. Tradutor Jorge Candeias. 13ª reimpressão. São Paulo: Editora Leya, 2011.

--

--