Beterraba Leitora: Tyrion XIV

A Fúria dos Reis

Victor
11 min readMar 29, 2023
Ilustração em tons de verde de uma cidade medieval vista de baixo, com casas e um castelo ao fundo. No centro, atravessando o arco de um portão, alguém que parece ser Tyrion Lannister anda com o auxílio de uma bengala
Capa de A Fúria dos Reis

Hodor!

Boa tarde, Beterrabas! Hoje veremos o capítulo Tyrion XIV, um capítulo onde o caos tá comendo solto!

Tyrion lidera defesa de Porto Real contras as forças de Stannis. Em meio ao caos, ele sofre um atentado à vida pelas mãos de Sor Mandon Moore, sendo salvo por Podrick.

Conteúdo & Discussão

Apesar do meu resumo do capítulo parecer uma coisa épica, cheia de morte e heroísmos por ambas as partes da Batalha, eu não vi muita coisa para destacar na primeira metade do capítulo (sim, serão duas metades, não 3 partes, porque as coisas são muito corridas até o atentado em questão). Assim sendo, vamos às duas partes.

Carga!

O capítulo começa bem onde parou o anterior: Tyrion liderando a surtida dos defensores nas forças Baratheon que apareceram no terreiro dos torneios. À direita dele estava Sor Mandon Moore (protegendo-o), e à esquerda, Podrick Payne. A Mão tentou fazer com que o garoto retornasse, mas ele (graças aos deuses) foi teimoso, afirmando que deveria ir porque era escudeiro dele. Como Tyrion tava #SemTempoIrmão pra discutir, só mandou o menino ficar perto dele. E, olha, essa foi uma das decisões que ele tomou de cabeça quente das mais acertadas até hoje.

Obviamente que tá aquele caos do lado de fora: o fogovivo queimando tudo indistintamente, barris de piche em chamas atirados pelas tropas de Stannis, gente gritando… aquela sopinha de hiperestimulação sensorial que todo mundo adora.

Começa então a surtida, com a descrição dos estandartes, as condições miseráveis do terreno perto do Portão do Rei, e os gritos de ordens, investindo numa carga em cunha (se você já viu a cena de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, especificamente dos Campos de Pelennor e a cavalgada dos rohirrim, sabe do que estou falando; caso contrário, a cena tá aqui).

Temos um momento Carol Moreira e seu grito (“Cuiabá!”) com Tyrion e seus homens gritando “Porto Real”.

Sor Mandon usou o estandarte do rei como lança num homem qualquer, enquanto Tyrion matava alguém com as cores da Casa Florent. Como arma, a Mão está usando um machado, que no golpe contra o homem Florent, fez o braço dele ficar dormente.

Depois de mais narração do avanço que faziam na carga, Tyrion vê que o aríete foi largado na lama, e ele resolveu dar uma de Beto Carreiro e fazer o seu cavalo de guerra subir no troço, o que fez dele o alvo favorito de 9 a cada 10 arqueiros. Um disparo, em especial, mirou o seu rosto, que por um dedinho não acertou a fenda do visor do elmo. Ele se faz uma repreensão e coloca o cavalo em movimento.

Nisso, ele decide ir para o Portão da Lama — o portão virado para a Água Negra — e ajudar os homens de Sor Balon Swann e de Lancel a mandar os homens de Stannis de volta para as águas (que, não custa lembrar, estavam ainda com um bom bocado de fogovivo ainda queimando).

O cavalo de Tyrion, mesmo sendo um animal próprio para combate, ainda era um cavalo, e todo aquele fogo entre a muralha e o rio assustava o cavalo, fazendo com que se lembrasse da razão de Sandor Clegane estar tão reticente em liderar as surtidas fora das muralhas.

Nisso, enquanto estava a galope, Tyrion e suas tropas matavam os homens desesperados que apareciam das águas, queimados, sangrando, cuspindo água e morrendo. E a Mão e seus homens davam aos moribundos a piedade da morte, gritando “Lannister!” e “Meio Homem!”.

Toda essa sensação deixava-o bêbado, fazendo se lembrar do que Jaime lhe dissera sobre a febre de batalha e toda a sede de sangue que um combate sangrento trazia. Nas palavras do mais velho:

— Nessa altura não sente as feridas ou a dor nas costas por causa do peso da armadura, ou o suor que escorre para os seus olhos. Deixa de sentir, deixa de pensar, deixa de ser você, só existe a luta, o inimigo, este homem, e logo o seguinte, e o outro, e o outro, e sabe que eles têm medo e estão cansados, mas você não, você está vivo, e a morte está por todo lado a sua volta, mas as espadas deles movem-se tão devagar que pode dançar por entre elas, rindo. (01, p. 551)

Em meio aos seus pensamentos de batalha febril, gritos e maldições, homens mutilados rendendo-se em poças de seu próprio sangue, alguém chama a atenção de Tyrion: eram homens de Stannis, e vinham em número.

Mas, de onde vinham?

Salvamento Inesperado

Com o pensamento “De onde diabos eles vieram?”, Tyrion notou que as galés e navios que ainda tinham alguma estrutura e não afundaram se prensavam todos num cais, formando uma ponte irregular de uma margem à outra. O que permitiu os partidários mais ousados (ou malucos) de Stannis atravessar a dita “ponte” e chegar à margem norte.

Sor Balon comentou sobre a bravura inimiga (e até mesmo a loucura de um dos cavaleiros de Stannis forçando sua montaria para atravessar a ponte; e francamente, haja estupidez, viu?) enquanto Sor Mandon aparecia ao lado de Tyrion, todo imundo e com o escudo estraçalhado.

Nisso, um homem de armas da Casa Celtigar apareceu, acertando uma lança no peito do cavalo de Sor Balon, levando a um pequeno caos para a Mão. Este simplesmente desceu o machado no homem Celtigar, perdendo o controle do cavalo, que saltou o cais da ponte e pousou na água, atingindo seus tornozelos. Tyrion caiu, seu cavalo quebrou uma das patas, e Tyrion o degolou por piedade.

Com dificuldade, ele se levantou, agora se vendo lutar no chão. Perdeu a faca, conseguiu (não se sabe como) uma ponta de lança, sempre matando, ferindo e afugentando. E sempre mais e mais homens apareciam.

As duas sombras brancas da Guarda Real acompanhavam a Mão. O trio foi cercado por lanceiros Velaryon, comparando as mortes causadas pelos dois como belas, enquanto as suas eram desajeitadas.

Um homem nu caiu na ponte (um dos Homens Chifrudos condenados por Joffrey), e logo vieram mais e mais pedras, o que fez a estrutura toda gemer alto. Desesperado, Tyrion notou que o rio invadia seu elmo, arrancando-o desajeitadamente.

A coisa foi tão rápida que ele precisou se segurar como pôde para impedir ser levado para o fundo do rio pelos restos de embarcações enquanto o navio (Perdição de Dragão) se libertava.

O convés que estava se estabilizou, e logo gente de ambos os lados subiam como dava no convés. E a situação era tão caótica que demorou para notar a embarcação rodando, fazendo-o demorar para entender que Stannis e a Fortaleza Vermelha trocavam de lado constantemente.

Nisso, Tyrion notou que o navio estava indo lentamente para a muralha de fogovivo. Alguém chamou seu nome, e ele respondeu, e o convés, agora inclinado, ia se chocar numa galé. No navio seguinte, Sor Mandon apareceu, o braço esticado para pegar a mão de Tyrion.

Demorou um instante, mas ele notou que era a mão esquerda

O golpe da espada foi rápido. Sua cabeça virou para trás, como a reação a uma bofetada, e caiu na água. Ele tentou (com muita, muita sorte) achar algo para impedir que afundasse na água. A cada centímetro, ele subiu aos pouquinhos, chegando até o convés e vendo certa beleza nas chamas verdes.

Sor Mandon apareceu enquanto ele estava caído, sua espada encostando na garganta de Tyrion, ambas as mãos no cabo da espada.

O golpe não veio. Algo fez o cavaleiro guinar para o lado, gritando antes do som de impacto na água, seguindo do barulho alto de cascos de navios se chocando.

Seu salvador, para sua surpresa, era Podrick.

Momento Ned Pomba

Apesar de Porto Real estar repleta de pessoas e locais para criar as teorias malucas, este capítulo não tem nada muito pirado ou mirabolante.

Com uma exceção: quem mandou Sor Mandon matar Tyrion?

Para responder a esta pergunta, o iluminado do AltoValiriano, do subreddit Valíria, fez um post com a teoria sobre (você pode ver clicando aqui).

Bem, vamos ao resumo básico da teoria: Sor Mandon era cavaleiro do Vale, levado de lá a Porto Real pelo próprio Jon Arryn, e o Robert foi quem deu o manto branco ao cavaleiro.

Jaime, numa conversa com Tyrion, conta que o mais perigoso dos guardas reais era o Sor Mandon, justamente pela poker face que ele fazia dificultava demais lê-lo.

Muito bem, e agora, a questão: quem mandou?

Dos possíveis suspeitos, temos três: Cersei, Varys e Mindinho.

Apesar de sabermos das escaramuças entre irmã e irmão (especialmente a que vemos no capítulo Tyrion XII, no jantar deles dois), é no mínimo difícil que a rainha tenha mandado-o matar Tyrion. Uma razão para tal conclusão são os guardas reais que ela tem no bolso: Boros Blount, Osfryd Kettleblack e Meryn Trant.

Além disso, o próprio Tyrion, mais para a frente, tem um pensamento onde diz achar estranho que a irmã não tivesse mandado um dos capachos dela.

Por fim, para excluir a primogênita Lannister, temos um fato curioso: Cersei não pensa, em momento algum nos seus capítulos de POV, em como se frustrou com a missão fracassada de Sor Mandon dada por ela, visto que do quarto livro adiante, Tyrion tem uma presença quase constante nos pensamentos paranoicas dela.

O segundo, Varys, tem motivos. Sabemos que a Aranha é bff do Illyrio Mopatis, e os dois estão mancomunados para levar (e manter) a guerra em Westeros para algum estratagema dos dois. E, muito importante ser ressaltado, o próprio Varys faz com que Tyrion “coincidentemente” passe pelo caminho que leva até a Torre da Mão e mate o pai (tem mais uma análise no Valíria feita pelo AltoValiriano sobre o assunto).

Além disso, há passagens no livro (algumas vistas nas colunas dos capítulos prévios do Tyrion e nos episódios do Hodor Cavalo) onde Tyrion e Varys têm um ou outro atrito leve em relação aos segredos que a Aranha mantém dos demais.

E isso nos leva ao questionamento: Varys saberia que Mindinho foi o mandante da ordem? Não duvido, é bem capaz até mesmo do mensageiro de Petyr ser alguém do bolso de Varys.

Mas o pulo do gato está no fato de que, para o Mestre dos Segredos, era mais interessante a ele que Tyrion pensasse que fora a irmã quem mandou, não o Mindinho propriamente dito.

E falando nele, vamos ao homem.

Assim como o AltoValiriano, eu sou crente que foi lorde Baelish.

Razão?

Bem, a primeira, que me vem à mente, é a necessidade crônica dele manter a sua versão da mentira relacionada à adaga de aço valiriano tão verdadeira quanto for possível. No momento, sabemos que alguns personagens (em especial, Tyrion, Catelyn e Jaime) sabem da mentira de Petyr sobre a arma.

Há, ainda, o agravante de que o Mestre da Moeda estava esfregando na cara de Tyrion a adaga quando a Mão do Rei (Interina) chega à cidade, e Tyrion sabia que o Mindinho estava ciente do conhecimento da mentira por detrás da lâmina.

Para manter a mentira, mais vale o quê: manter toda uma teia de intrigas, mentiras e complexas maquinações, ou só matar o falso culpado e assim manter a culpa toda num morto que nem pode se defender?

AltoValiriano ainda reforça que este motivo acima não é o único. Há mais um, de mais peso, em questão.

No capítulo Tyrion IV (HC episódio 96), vemos ele engambelando Pycelle, Varys e Mindinho. E na passagem, a Mão diz que faria bem se Petyr entregasse o verdadeiro assassino de Jon Arryn à viúva dele.

O que pega Mindinho de surpresa. O problema de Tyrion está no fato dele achar que fora Pycelle quem o matara, não o vassalo que veio com a antiga Mão, do Vale.

E o próprio Petyr se mostra muito insatisfeito com a passada de perna de Tyrion com o casamento falso entre Myrcella e Robin Arryn.

Temos, também, os “suspeitos de consideração”: pessoas cujos calos foram pisados pelo Tyrion em alguma medida.

Tywin Lannister: por mais que o patriarca Lannister tenha um desagrado e uma gana em impedir-lhe de passar o Rochedo ao filho legítimo, ele o mandou a Porto Real para consertar as cagadas do conselho e de Joffrey. Algo no mínimo ilógico para o Tywin Lannister. Fora que ele estava guerreando nas Terras Fluviais e no Oeste, ideia patética.

Ai, mas Victor, isso pode ser hipocrisia do Tywin! Todo mundo tem suas hipocrisias!” você tenta me convencer do contrário. Mas preciso lhe relembrar que esta é uma obra de ficção. E uma regra de ouro da ficção é a coerência interna da obra: a realidade pode não ter lógica, mas a ficção, sim.

Grande Meistre Pycelle: apesar do velho ter azedado sua relação com a Mão do Rei (Interina), ele estava nas masmorras, e até onde sabemos, ele não tinha nem meio caco de relação com Sor Mandon.

Joffrey Baratheon: sabemos que tio e sobrinho não tinham a mais saudável das relações, especialmente com os tapas e sermões que o menino levava (bem dados, diga-se de passagem). E essa luzinha de amor e tolerância (#Sarcasmo) que o Joffrey é, criado pela Cersei, nem pensaria em se vingar (#MaisSarcasmo). O que impediria o menino de passar a ordem é o fato dele estar se borrando na Batalha, procurando até mesmo a própria sombra pra se proteger. Além disso, esta opção é tão simplória, chata e sem o mínimo de esforço do autor.

Momento Geografia

Como nos capítulos anteriores desta luta, tudo aconteceu no quintal de Porto Real. Então, já sabe, não é?

Cuzão Alert

Milagrosamente, este não um dos capítulos onde temos alguém agindo como um babaca de marca maior.

Momento Valar Morghulis

Como vimos nos capítulos anteriores da Batalha, tá morrendo uma boiada a cada página. Mas, para fins práticos, vamos contar quem morreu neste capítulo. Apesar de não falar explicitamente, Sor Mandon Moore teve seu fim ditado pelas mãos de Podrick Payne: cair todo paramentado em uma armadura num rio é uma sentença de morte (ok, Jaime Lannister da sexta temporada?). Aumentamos para… 152 mortes.

Momento Joffrey

Eu não achei um momento para achar ruim…

Momento Dracarys

De longe, para mim, a melhor parte foi a preparação para a tentativa de assassinato de Tyrion. Você começa lendo, vê o deus nos acuda que está na ponte de navios, e nem nota o detalhe do Sor Mandon, virando a página para então ver a traição.

Imagem do mascote da coluna, Beterrabita. É o emoji do nerd de óculos e dentuço sorrindo, mas com a parte amarela pintada toscamente no paint num tom vermelho-beterraba e a armação do óculos pintada em tom verde-folha
Diga “oi” para a Beterrabita

Dúvidas, críticas ou sugestões? Então vai lá no grupo do Hodor Cavalo, procura pela #BeterrabaLeitora e faz lá o seu comentário. Dia 31/03 eu farei outra coluna aqui no medium, respondendo as suas questões (se tiverem).

Na próxima Beterraba Leitora (dia 07/04*), teremos o capítulo Sansa VII. Veremos o último capítulo da Batalha da Água Negra e a comparação entre livro e série.

*Como bem sabemos, estou fazendo o meu mestrado. E para mim, está começando a ter um volume de textos e tarefas da pós-graduação para fazer. Portanto, peço que vocês, meus maravilhosos leitores, entendam a razão do meu atraso deste capítulo até o fim de A Fúria dos Reis (ei, mas veja pelo lado bom: são só mais 8 capítulos, o que nos dá uma estimativa de lançamento do último capítulo lá para final de julho, começo de agosto).

Hodor!

Referências

01 — MARTIN, George R. R. As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis. Tradutor Jorge Candeias. 13ª reimpressão. São Paulo: Editora Leya, 2011.

--

--