Beterraba Leitora: Tyrion IX

A Fúria dos Reis

Victor
16 min readJun 10, 2022
Ilustração em tons de verde de uma cidade medieval vista de baixo, com casas e um castelo ao fundo. No centro, atravessando o arco de um portão, alguém que parece ser Tyrion Lannister anda com o auxílio de uma bengala
Capa de A Fúria dos Reis

Hodor!

Boa tarde, Beterrabas. Hoje teremos um capítulo xicante do Tyrion IX (são 11 páginas), trazendo o caos que finalmente chegou com vontade em Porto Real. Pega a pipoca e o escudo anti-merda.

Myrcella parte para Dorne. De volta à Fortaleza Vermelha, a comitiva real é atacada por uma turba enfurecida e esfomeada. Depois de uma corrida desesperada até a segurança do castelo, Tyrion começa a manejar as forças da cidade para controle do caos que se instaurou na capital de Westeros.

Conteúdo & Discussão

A Viagem (não, não é o filme)

Começamos com a partida de Myrcella para Dorne. O plano adotado por eles é viajar perto da costa e longe de Pedra do Dragão, passando pela Ponta da Garra Rachada (ver Momento Geografia), com os navios Mar Ligeiro (onde a princesa viaja), Martelo do Rei Robert, Vento Ousado, Mar Ligeiro, Estrela Leonina e Senhora Lyanna, evitando a frota de Stannis enquanto vão para Braavos. Da cidade livre, eles partem para Lançassolar, já que este pode não ser o caminho mais direto, mas era o mais seguro (ver Momento Geografia). Junto dela vai o Sor Arys Oakheart, cavaleiro da Guarda Real que irá acompanhar a princesa como seu escudo juramentado.

Tommen, sendo o fofo que é, chorou com a partida da irmã (e confortado por ela), mas Joffrey tinha que fazer as suas ignorâncias. Sansa tenta justificar as lágrimas do Tommen com a história do Príncipe Aemon, Cavaleiro do Dragão, que chorou quando a princesa Naerys se casou com Aegon (neste caso, Aegon IV, Momento Ned Pomba), e os gêmeos Sor Arryk e Sor Erryk morreram com lágrimas após causarem ferimentos mortais no outro. E nosso amado (#Sarcasmo) Joffrey manda aquela cortada que vale um Cuzão Alert: se não se calasse, ele mandaria que Sor Meryn causasse nela um ferimento mortal.

Um detalhe cronológico: estamos depois da partida de Mindinho para Ponte Amarga (Tyrion VIII), e ainda não receberam nem um zap dele. Embora pudesse estar morto por Mace Tyrell, era mais fácil Tyrion ser considerado um gigante.

Skincare: Máscara de “Lama”

Toda a comitiva de despedida de Myrcella volta para a Fortaleza Vermelha a cavalo e aquele ar de briga de bar começa a aparecer. E para entender que não são meia dúzia de Zé ruela andando com o povo a cavalo, a comitiva está organizada na seguinte formação: Sor Jacelyn Bywater indo na frente (dando ordens) encabeçando uma cunha* de lanceiros montados dos Mantos Dourados, Sor Aron Santagar (mestre de armas da Fortaleza Vermelha) e Sor Balon Swann (servindo de porta-estandartes), Joffrey e Sansa logo atrás dos estandartes, protegidos pelo Cão de Caça e Sor Mandon Moore (respectivamente), Tommen protegido por Sor Preston Greenfield, Cersei acompanhada de Lancel Lannister e protegida por Sor Meryn Treant e Sor Boros Blount, Tyrion estava do lado dela (e acompanhado de Bronn); atrás deles o Alto Septão (que por ser muito obeso, estava numa liteira), e então o “resto” dos cortesãos: Sor Horas Redwyne, Lady Tanda e Lollys, Jalabhar Xho, Lorde Gyles Rosby e outras pessoas, além de uma coluna dupla de guardas fechava as costas a pé.

* formação em cunha, caso alguém não saiba, é aquela formação em “V” (ou triângulo), muito similar do jeito que os patos voam quando estão migrando, servindo basicamente para abrir caminho.

A narrativa conta que no meio do povo, algumas pessoas gritavam “Viva o rei”, mas para cada viva gritado, uma centena dos presentes mantinha-se em silêncio, apenas observando.

Num dado momento, uma mulher desesperada apareceu à frente do Joffrey, mostrando o filho (um bebezinho de colo) morto. O nosso rei desgraçadinho saca umas peças de prata e joga na mulher, achando que vai ajudá-la. Cersei resolveu falar alto para deixar para lá, já que ela está além da ajuda de Joffrey (01, p. 382). E começa aí o caos que levará à Revolta:

A mãe ouviu. De algum modo, a voz da rainha abriu caminho através da inteligência devastada da mulher. Seu rosto descuidado contorceu-se com repugnância.

— Puta! — ela guinchou — Puta do Regicida! Fode-irmão! — seu filho morto caiu de seus braços como uma saca de farinha quando apontou para Cersei. — Fode-irmãos, fode-irmãos, fode-irmãos.

Tyrion não chegou a ver quem atirou o esterco. Só ouviu o arquejo de Sansa e a praga berrada por Joffrey, e, quando virou a cabeça, o rei limpava a sujeira marrom do rosto. Havia mais no seu cabelo dourado e salpicos pelas pernas de Sansa. (01, p. 382)

Praticamente todo mundo perto do Joffrey tentou enfiar algum bom senso na cabeça da criaturinha birrenta mimada, que jurou 100 dragões de ouro para quem trouxesse o homem para limpá-lo, para matar o homem… Joffrey tava tão indignado que ele simplesmente esqueceu onde estava, o contexto que estava e simplesmente resolveu jogar o Cão para cima do lugar onde supostamente estava o arremessador de merda.

Como resultado, começou o caos supremo nas ruas de Porto Real (ver Momento Geografia), fazendo com que a guarda da comitiva começasse a ser pressionada pela multidão toda.

Enquanto a guarda tenta conter a turba ensandecida, é narrado que se ouve “bastardo”, “monstro bastardo”, “puta”, “fode-irmãos”, “aborto”, “meio-homem”, “justiça”, “Robb, Rei Robb, Jovem Lobo”, “Stannis”, “Renly”, entre outras tantas coisas que devem ter sido cuspidas neles, mas não foram narradas.

Tyrion deu uma de Beto Carreiro, mandando o sobrinho cavalgar de volta para a Fortaleza Vermelha. No meio da cavalgada, Tyrion viu Sor Aron ser puxado da sela, o Alto Septão urrando por piedade, atropelando quem tava na frente. E relendo agora toda a descrição da fuga desesperada, devo dizer que foi de uma maestria do Martin em passar o caos da situação toda até que o Tyrion estivesse a salvo na Fortaleza Vermelha.

Enquanto nossa Mão do Rei processa o que aconteceu, somos bombardeados pela informação dos que os acompanhavam: Sor Horas trazia a Senhora Tanda (desesperada por derrubarem Lollys da sela), Lorde Gyles comentou que o Alto Septão tinha sido derrubado da liteira, Jalabhar Xho comentou que viu Sor Preston Greenfield ir salvar o septão.

E em meio aos relatos picotados, Joffrey é ajudado por Sor Boros a desmontar, balbuciando que matará todos aqueles traidores, pipipi, pópópó… a típica ameaça xexelenta dele.

Como resultado, Tyrion dá uma das melhores cenas em todas as Crônicas: ele meteu o tapão na cara de Joffrey, mandando outro sermão humilhação no merdinha (inclusive, Momento Dracarys). O sermão dele:

O anão deu um tapa tão forte em sua cabeça coroada que a coroa voou. Depois, empurrou-o com ambas as mãos e o derrubou, fazendo-o estatelar-se no chão.

— Seu maldito e cego idiota!

— Eles eram traidores — do chão, Joffrey guinchou. — Chamaram-me de nomes e atacaram-me!

— Você atiçou seu cão sobre eles! Que imaginava que fizessem, que dobrassem docilmente o joelho enquanto Cão de Caça cortava alguns braços e pernas? Seu garotinho mimado e imbecil, matou Clegane, e só os deuses sabem quantos mais, e, no entanto, você escapou sem um arranhão. Maldito seja! — Tyrion o chutou. A sensação era tão boa que poderia tê-lo feito mais vezes, mas Sor Mandon Moore o puxou para trás enquanto Joffrey uivava, e rapidamente Bronn estava ali para contê-lo. Cersei ajoelhou junto ao filho, enquanto Sor Balon Swann continha Sor Lancel. Tyrion libertou-se de Bronn com uma sacudida. — Quantos ainda estão lá fora? — gritou para ninguém e para todos. (01, p. 384)

Quando respondem que Sor Preston e Sor Aron não regressaram, tal qual a Ama de Leite (Tyrek Lannister), Tyrion se dá conta de que Sansa não estava ali. Começa então uma cobrança do escudo dela (Sor Mandon), que mandou o migué de “tava protegendo o rei”. Um detalhe chato (babaca, na verdade) é que estão todos ignorando veementemente a Senhora Tanda Stokeworth (Cuzão Alert). Tyrion ordenou que Sor Boros e Sor Mandon retornassem atrás de Sansa, fazendo ambos mostrarem nem um pouco disfarçadamente que odiaram a ideia.

A situação estava quase indo ao ponto em que Sor Boros atacar Tyrion, quando Joffrey guinchou um “ali está ela” quando o Cão chegou guiando o cavalo de Sansa e trazendo ela na “carona”.

Ela estava visivelmente abalada, além de muito suja de sangue (quando perguntam a ela se tinha se ferido, Sansa explica (meio atarantada) que o sangue era do povo que tentava puxar ela da sela).

Pela terceira vez a Senhora Tanda pergunta por Lollys e nem com do Cão temos confirmação dela. Confirmamos aqui a morte de Sor Aron Santagar.

E como se a bagunça não fosse pouca, alguém gritou nas muralhas do castelo a pior coisa de todas: fogo!

Todo esse caos foi nomeado de Revolta de Porto Real, mas obviamente que não durante todo o deus nos acuda que a cidade tá passando.

As Consequências da Revolta de Porto Real

Com o fogo na cidade, e tirando forças sabe-se lá de onde, Tyrion começou a distribuir suas ordens: Bronn iria com seus homens manter os carros de água inteiros e assim conter o fogo, impedindo que chegasse ao Palácio dos Alquimistas, mesmo que fosse preciso abrir mão de toda a Baixada das Pulgas. Atarantado, ele acabou ordenando ao Cão que cuidasse do incêndio também, notando a cagada logo depois (lembremos que Sandor Clegane tem a face esquerda destruída pelo fogo por conta do irmão mais velho e, assim, tem um belo de um trauma com fogo). O Clegane mais novo disse que sairia apenas por conta do cavalo dele, não porque fora ordenado.

Vamos só fazer uma rápida digressão e falar da Guarda Real de Joffrey. Temos Sor Jaime Lannister (Senhor Comandante), Sor Arys Oakheart, Sor Boros Blount, Sor Mandon Moore, Sor Meryn Trant, Sandor Clegane e Sor Preston Greenfield. Destes sete, Jaime está cativo em Correrrio, Sor Arys tinha recém-partido com Myrcella e Sor Preston recém-morto. Sandor, sob as “ordens” de Tyrion, saiu para conter o caos e o fogo.

Restam apenas Sor Boros, Sor Mandon e Sor Meryn. Tyrion virou-se para estes três e ordenou que escoltassem um arauto e ordenar que todos retornem para suas casas. Qualquer um encontrado nas ruas depois do último repique do toque de recolher será morto.

E francamente, eu amo quanto o Tyrion dá as suas patadas nos cavaleiros da Guarda Real, mas ver outras pessoas fazendo isso é tão revigorante quanto. Sor Meryn tentou passar o migué safado de “meu lugar é ao lado do rei”, quando a Cersei meteu um “seu lugar é onde a Mão do Rei ordenar, desobedecer é trair”. Ele e Boros se olham e perguntam se deviam ir com os mantos, levando outra patada da rainha, dizendo que saíssem nus, assim veriam que eram homens de fato.

Tyrion chama por um dos Corvos de Pedra, pedindo para chamar por Shagga. Comentam que Shagga tem que se afogar em álcool já que a água é nojenta**, e por fim, quando atendido, Tyrion manda seus homens dos clãs protegerem a mansão de Shae.

** um detalhe interessante é quanto a esta fala do homem dos Corvos de Pedra: este fato, de Shagga beber cerveja e vinho no lugar de água, é historicamente correto, especialmente “naquele tempo”, já que água de boa procedência era rara de se obter. Até onde pesquisei, não se tinha o hábito de ferver água, então, qualquer porcaria na água era bebida junto (e a tecnologia de filtragem não era presente). Assim, o mais fácil era beber álcool para consumir algum líquido (vinho era bebido, além das cervejas que os europeus chamavam de ale, a qual é uma cerveja de produção rápida, diferente de outros processos) sem pegar alguma virose ou alguma verminose.

Já de noite, com o Lollapalooza do Inferno ainda correndo solto na cidade, Sor Jacelyn Bywater veio com o recibo da revolta bem na hora da janta de Tyrion.

Os mortos eram: o Alto Septão, Sor Preston Greenfield (quase irreconhecível) e Sor Aron Santagar. Junto deles, nove homens dos Mantos Dourados, além de uns 40 feridos (ver o Momento Valar Morghulis).

Finalmente acharam Tanda, perambulando perdida e nua no Quarteirão do Porco Salgado após ter sido violada pela multidão.

Tyrek Lannister, primo de Tyrion pelo lado materno da família, estava sumido (aliás, dá uma olhada no Momento Ned Pomba), assim como a coroa de cristal do Alto Septão.

Uma passagem chata de ser lida, que reflete o etos da elite westerosi, foi que ninguém se deu ao trabalho de contar os mortos da plebe. É chocante ler agora, mas se pensarmos pela visão dos nobres de Westeros, é na base de “pouca brasa, meu peixe primeiro”. Triste, nojento e revoltante, mas é assim que era “naquele tempo”.

Tyrion manda correrem atrás de Tyrek, especialmente por ser um menino de 13 anos e também por conta do pai dele ter sido um dos tios favoritos de Tyrion.

O Boletim Bywater não continua nada bem: como está, eles podem assegurar a segurança de Porto Real hoje, mas não podem assegurar amanhã. Janos Slynt, maldito seja, meteu mais inúteis na guarda da cidade que pessoas que prestassem. Uma troca de Sor Jacelyn e Tyrion é interessante:

— Meus homens vêm, na sua maioria, do povo. Caminham pelas mesmas ruas, bebem nas mesmas tabernas, servem-se das mesmas tigelas de castanho dos mesmos refeitórios. Seu eunuco já lhe deve ter dito que há pouco amor pelos Lannister em Porto Real. Muitos ainda se lembram de como o senhor seu pai saqueou a cidade, quando Aerys lhe abriu os portões. Sussurram que os deuses estão nos punindo pelos pecados da sua Casa… pelo assassinado do Rei Aerys por seu irmão, pelo massacre dos filhos de Rhaegar, pela execução de Eddard Stark e pela selvageria da justiça de Joffrey. Alguns falam abertamente de como as coisas eram melhores quanto Robert era rei e sugerem que os tempos voltariam a melhorar com Stannis no trono. Ouvem-se essas coisas em refeitórios, tabernas e bordéis… e temo que também se ouçam em casernas e salões de guardas.

— Odeiam minha família, é isso que está me dizendo?

— Sim… E vão virar contra ela, se houver uma oportunidade.

— Também me odeiam?

— Pergunte ao seu eunuco.

— Estou perguntando a você.

Os olhos encovados de Bywater enfrentaram os desiguais do anão e não pestanejaram.

— Acima de tudo, senhor.

— Acima de tudo? — a injustiça o sufocava. — Foi Joffrey quem lhes disse para comer seus mortos, foi Joffrey quem atiçou seu cão sobre eles. Como podem me culpar?

— Sua Graça não passa de um rapaz. Nas ruas, dizem que tem conselheiros malignos. A rainha nunca foi conhecida como uma amiga da plebe, nem chamam Lorde Varys de Aranha por amor… Mas é você quem mais culpam. Sua irmã e o eunuco estavam aqui quando os tempos eram melhores sob o reinado do Rei Robert, mas você não. Dizem que encheu a cidade de mercenários arrogantes e selvagens que não tomam banho, brutos que roubam o que desejam e não seguem nenhuma lei, a não ser a deles próprios. Dizem que exilou Janos Slynt porque o achou direto e honesto demais para seu gosto. Dizem que atirou o sábio e gentil Pycelle na masmorra quando se atreveu a levantar a voz contra você. Alguns até dizem que planeja tomar o Trono de Ferro para si.

— Sim, e além de tudo sou um monstro, hediondo e deformado, nunca se esqueça disso — a mão de Tyrion enrolou-se num punho. — Já ouvi o suficiente. Ambos temos trabalho a fazer. Deixe-me. (01, p. 387–388)

Isso é um reflexo, obviamente, do que o povo acha. Mas, olhando por alto (e se me permitirem uma falta de modéstia), vemos que a minha ideia do vaticínio de Tyrion feito a si mesmo, lá em Sansa III, está se mostrando aqui: parte da cidade culpa ele acima de todos os problemas, além de sua ruína aparecer no próximo livro quando não enfeitou as muralhas da Fortaleza Vermelha com a cabeça dos Grande Meistre Pycelle por sua traição (mesmo que ele fosse BFF da Cersei e fanboy do Tywin, vazar informações pertinentes e confidenciais apenas à coroa como se fossem nada é, de fato, traição). O que chega a ser engraçado no relato de Bywater é que o povo acha que Tyrion mandou Slynt pra Muralha por ser direto e honesto demais! Quase ri quando li isso… Felizmente, este traste não vive muito mais na Patrulha.

O capítulo termina com uma conversa bem mais tarde, entre Tyrion, Bronn e Varys. Bronn chegou metendo a mão nas sobras da janta de Tyrion. Temos uma troca entre os três, onde Tyrion afirma que Joffrey é um incompetente até para usar uma privada. Varys tenta passar um pano dizendo que deve-se ensinar o ofício ao aprendiz e Bronn manda a melhor debochada do psicopatinha: metade dos aprendizes da Alameda dos Vapores conseguiriam governar melhor do que esse seu rei”. Eu ri genuinamente com essa, admito.

O mercenário ainda comenta o quão mais fácil seria governar se o “chorão” [Tommen] tivesse nascido antes. Tyrion, surpreendentemente, sentiu um arrepio descer a espinha com o pensamento de fazer Tommen rei (implicando, assim, regicídio e assassinato de parentes). Ele fala que o comentário de Bronn renderia uma decapitação. Varys tentou inutilmente apaziguar pedindo que colocassem o coração em suas mãos ao invés de discutir.

Tyrion termina o capítulo com a pergunta: “o coração de quem?”. Ele tinha várias hipóteses tentadoras.

Momento Livro versus Série

Esse capítulo tá muito bem-adaptado na série, temporada 02, episódio 06. Da partida da Myrcella até o caos que segue é muito bem feito. Uma das melhores cenas do Tyrion da série (pelo menos pra mim, perdendo apenas para o julgamento dele na quarta temporada) é vista aqui, quando ele mete o tapão na cara do psicopatinha do Joffrey. Um detalhe que não vemos na série foi a tentativa de estupro que a Sansa sofreu, salva pelo Cão (aliás, revendo agora, achei um pouco demais mostrar o quase estupro, mas como vimos nas primeiras temporadas de GoT, sexo vale mais tempo de tela que desenvolvimento de trama e personagem). No livro, vemos tudo pela visão do Tyrion, e consequentemente, ele não viu nada disso. Uma diferença da procissão é que estão a pé e não a cavalo. E também não temos a Lollys Stokeworth sendo estuprada por toda a galera que narram (ainda bem) — um detalhe curioso, aliás, é que a atriz da Lollys não apareceu na série até a temporada 5, mas até aí, nada de mais, só queria mostrar a curiosidade.

Momento Ned Pomba

Não é um Ned Pomba dos mais mirabolantes, mas temos um detalhe quanto à relação de Aegon IV, Naerys e Aemon (eu diria que é mais um Momento Corvo Fofoqueiro). Sabe-se que Aemon amava e muito a irmã, mas Aegon era o herdeiro do Trono de Ferro e, consequentemente, seria dele a mão da irmã. Aemon, sabendo que nunca poderia ter o amor da irmã, juntou-se à Guarda Real e tornou-se o escudo juramentado de Naerys. Tinha um ar de muito amor entre os dois, e sabemos como o Aegon IV ganhou o epíteto de O Indigno. Depois que Naerys deu à luz ao futuro rei Daeron II, sabemos que o rei, por não ter muito o que fazer de bom para os Sete Reinos, espalhou por aí que o filho era (supostamente) bastardo de Naerys com Aemon e, por conta do boato, “abriu precedente” para que Daemon Blackfyre se considerasse um pretendente ao Trono de Ferro (muito disso por conta das instigações dos partidários dele) e, por fim, levou às Rebeliões Blackfyre (inclusive, recomendo atenção com o tema, já que tem gente que ainda confunde a Dança dos Dragões com as Rebeliões Blackfyre). Só lembrando que isso é um resumão porco e malfeito da história toda, para saber em detalhes, recomendo ir nos links relacionados acima, além de aqui, aqui e aqui, alguns vídeos da playlist Mikarol.

Outro momento pombístico é justamente o desenrolar do sumiço de Tyrek, que comentei, também, lá no Sansa III. Aqui está o link para a teoria que fala do moleque ser mantido nos bolsos de Varys por questões de artimanhas do eunuco com supostos herdeiros legítimos.

Momento Geografia

O Momento Geografia do capítulo é grande, começando pela rota de Myrcella. Só espero que ela tenha levado pelo menos um tablet com uns episódios de série baixados pra passar o tempo.

Mapa das Terras da Coroa: uma baía com duas penínsulas formando um V deitado 45 graus com a abertura para a direita. Myrcella partiu com o navio seguindo perto da costa (o braço de cima do V), longe dos olhos de Pedra do Dragão.
Mapa das Terras da Coroa: rota de saída de Myrcella em amarelo.

No mapa de cima, vemos a rota mostrada para nós em amarelo: eles saem de Porto Real indo pela costa, sempre à vista da terra, indo pela Ponta da Garra Rachada (Crakclaw Point) e passando longe dos olhos de Pedra do Dragão (Dragonstone).

Mapa do Mar Estreito: região entre dois continentes (Westeros e Essos), onde o navio parte do meio e esquerda do mapa indo para o canto superior direito e então retornando para o sul, pelo meio da região marinha entre os continentes, aportando no extremo sul, mais próximo do “meio” do mapa que do canto esquerdo.
Mapa do Mar Estreito: rota de Myrcella, Porto Real até Braavos em amarelo, Braavos até Lançassolar em laranja.

Este mapa mais acima é da rota completa, com a ida até Braavos em amarelo e a saída de Braavos até Lançassolar em laranja.

Mas o mais relevante deste capítulo, no entanto, é o mapa de Porto Real. Caso esteja muito ruim para ler na imagem, clique aqui para ver o mapa.

Mapa de Porto Real: uma cidade de formato retangular. No quarto inferior direito, está a Fortaleza Vermelha, razoavelmente longe do portão que dá acesso ao rio de onde partiu Myrcella (mais ou menos na metade do sul da cidade). O Palácio dos Alquimistas está perto do centro da cidade. A mansão da Shae está no quarto superior direito, razoalvemente perto da Fortaleza Vermelha. O Bordel da Chataya está também na direita, mas do outro lado da Fortaleza.
Mapa de Porto Real.

Marcado em amarelo está aonde provavelmente partiu o navio de Myrcella. O círculo vermelho ao redor do número 3 é a marcação do Palácio dos Alquimistas, na Colina de Visenya (Visenya’s Hill). O círculo azul é (aproximadamente) o Bordel da Chataya, atrás da Colina de Rhaenys (Rhaenys’s Hill). O círculo rosa é (aproximadamente) a Mansão da Shae. E a linha vermelha é a provável rota tomada na corrida desesperada até a Fortaleza Vermelha.

Cuzão Alert

O descaso que todos tratam Lollys é triste e uma mostra de como que as elites de Westeros pensam sobre aqueles que se encontram abaixo deles. Por mais que os Stokeworth sejam uma família nobre, estão muito abaixo dos Lannister, praticamente sendo a classe média westerosi.

Momento Valar Morghulis

Morreu uma boiada, mas de importância, temos: Sor Aron Santagar, o Alto Septão, Sor Preston Greenfield. Como os 9 Mantos Dourados mortos mencionados não tinham nome, sendo só mencionados, com a cabeçada da população de Porto Real não contabilizada, não serão contabilizados. Aumentamos, então, para 131 mortes.

Momento Joffrey

Como já assinalei em Sansa III, esse pivete arrombado do Joffrey ganha o Momento Joffrey toda a vez que aparecer. Não obstante, além de abusador, psicopata e mimado, é burro para um cacete! Não me admira que ele só saiba praticar abusos com todos aqueles abaixo dele. Um detalhe curioso quanto a este momento é sobre o pensamento do Tyrion quanto ao sobrinho merdinha: ele nos mostra mais e mais que Cersei é muito conivente com as ações dele, naqueles ares de “deixa ele ser assim mesmo, já tá velho pra ensinar algo” (01, p. 381).

Um segundo Momento Joffrey vai justamente para o total descaso da alta nobreza e da realeza para a Lollys Stokeworth, além do povo todo que foi morto e/ou ferido na multidão enfurecida.

Momento Dracarys

A cena do sermão humilhação do Tyrion no Joffrey valeu cada sílaba lida. Some-se a isso a cena da série e temos um Momento Dracarys turbinado!

Imagem do mascote da coluna, Beterrabita. É o emoji do nerd de óculos e dentuço sorrindo, mas com a parte amarela pintada toscamente no paint num tom vermelho-beterraba e a armação do óculos pintada em tom verde-folha
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Dúvidas, críticas ou sugestões? Então vai no grupo do Hodor Cavalo, procura pela #BeterrabaLeitora e faz lá o seu comentário. Dia 17/06 eu farei outra coluna aqui no medium, respondendo as suas questões (se tiverem).

Na próxima Beterraba Leitora (dia 24/06), teremos o capítulo Davos II. Teremos outro capítulo gigante, e desta vez com poderes do Senhor da Luz!

Hodor!

Referências

01 — MARTIN, George R. R. As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis. Tradutor Jorge Candeias. 13ª reimpressão. São Paulo: Editora Leya, 2011.

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