Beterraba Leitora: Davos III

A Fúria dos Reis

Victor
8 min readFeb 10, 2023
Ilustração em tons de verde de uma cidade medieval vista de baixo, com casas e um castelo ao fundo. No centro, atravessando o arco de um portão, alguém que parece ser Tyrion Lannister anda com o auxílio de uma bengala
Capa de A Fúria dos Reis

Hodor!

Boa tarde, Beterrabas! Hoje, continuando a Batalha da Água Negra, veremos o ponto de vista dos sitiantes no último capítulo do Cavaleiro das Cebolas.

Davos está no seu navio, Betha Negra, em meio à frota de Stannis, pronto para atacar a frota de Porto Real. Mas algo o incomoda. Até uma faísca acender tudo em verde.

Conteúdo & Discussão

Algo que vemos bastante exacerbado nos capítulos do Davos é esta constante dele quanto à sua origem, e o abismo que existe entre ele (e seu ofício anterior) e os senhores que cercam Stannis. Dito isto, este capítulo também tem esta constante, porém em volume muito mais pontual, visto que a coisa esquenta mais para a frente.

Um detalhe sobre o capítulo é quanto ao número de vezes que os nomes dos navios de ambas as frotas é citado. Por questão de praticidade, eu cito um ou outro quanto achar necessário (senão fica uma chatice só).

Assim, para termos ideia dos navios de ambos os lados, fica a listagem.

Frota de Stannis: Betha Negra, Senhora Marya, Espectro, Fúria, Peixe-Espada, Orgulho de Derivamarca, Ousada Gargalhada, Bruxa, Cavalo-Marinho, Garra Vermelha, Piedade, Prece, Devoção, Lorde Steffon, Veado do Mar, Senhora Harra, Peixe Brilhante, Lorde que Ri, Honra Chifruda, Demônio do Mar, Jenna Esfarrapada, Tridente Três, Espada Ligeira, Princesa Rhaenys, Focinho de Cão, Cetro, Fiel, Rainha Alyssane, Gato, Corajoso, Perdição de Dragão. Além outros navios menores e mais lentos, os navios de grande porte, e a frota de Salladhor Saan. Tudo isso totalizando 200 embarcações.

Frota Lannister: Graça dos Deuses, Príncipe Aemmon, Senhora de Seda, Vergonha da Senhora, Vento Vivo, Portorrealense, Veado Branco, Lança, Flor do Mar, a barcaça de prazer da Rainha Cersei, Homem Leal, Corajoso, além outras tantas barcaças e navios, totalizando 50 embarcações.

Por fim, mesmo com um capítulo grande (10 páginas), muito do que está em suas páginas é combate naval, com muito pouco para conseguir fazer uma análise do psicológico de Davos ou qualquer outra coisa. O capítulo é muito longo e curto ao mesmo tempo. Então, nem vale tanto à pena assim dividir como faço nas demais análises.

A Experiência no Mar versus a Engenhosidade de um Anão

Davos nos narra sobre a situação enquanto estão para subir a Torrente da Água Negra. Sabemos que seus filhos estão com ele: Dale no comando do Espectro, Allard no comando do Senhora Marya, Matthos como seu imediato no Betha Negra, e Marric como mestre de remos no Fúria.

Ele nos narra sobre o Supremo Lorde Capitão da frota de Stannis: seu cunhado, Sor Imry Florent, atualmente no comando do Fúria. O cavaleiro comentou com seus capitães que a batalha seria rápida, vistos que a sua frota era quatro vezes maior que a de Joffrey. E o capitão da frota tinha pressa: perderam dois navios quando saíram da Baía dos Naufrágios, uma galé de Myr nos Estreitos de Tarth, fora a tempestade quando entraram na Goela, precisando se agrupar no Gancho de Massey para seguir viagem até a foz da Água Negra.

Entrando já na Torrente, Davos enxerga as torres que, quando passam por elas, notam o brilho do sol poente nas correntes que Tyrion esteve fazendo durante seu governo como Mão do Rei.

Algo que nos é constantemente relembrado pelo Cavaleiro das Cebolas é o seu passado de contrabandista (e os instintos da vida pregressa) urrando para que ele não tomasse o curso de ação, sendo que agora até mesmo o seu navio contrabandista estava em sua primeira luta. Ainda mais com o local onde foram destacados por Sor Imry: a ala direita da segunda linha de ataque. Entre o Betha e a margem estavam Espectro, Senhora Marya, Piedade, Prece e Devoção (aliás, estes três últimos foram aquisições do Lorde Sunglass, o nobre que deu as costas a Stannis quando queimaram as estátuas dos Sete de Pedra do Dragão, preso logo após tentar defender do septo).

A descrição da situação na margem foi toda muito boa, com as comparações de Davos fazendo-se quase poéticas quando chamou de aves laranjas os projéteis incendiários de piche. Além disso, choviam flechas e, vez ou outra, pedras das catapultas.

Com a confusão começando, Davos começa a pensar em sua estratégia completamente ignorada pelo capitão da frota: destacar alguns navios leves e rápidos para serem seus batedores, para então ver como andavam as margens da Água Negra e então retornar para a frota, assim decidindo como seria o curso das ações.

Mas Sor Imry, como muitos nobres que seguiam Stannis, só olhou com desdém para Davos, contrastando e muito como o sorriso cortês. Algo que o cavaleiro diz chega a ser engraçado: ele comenta que podia ver os olhos do irmão de Selyse perguntar se havia compra seu grau de cavalaria com uma cebola (bem, não podemos dizer que não, só que foi mais de uma).

Enquanto estão se aproximando do combate naval, Davos nota que a margem sul do rio está ocupada com as tropas de Stannis, o próprio entre eles, todos os cavaleiros que estavam com ele e tantos outros que seguiam Renly e debandaram para a sua causa. Melisandre não está entre eles (e Davos agradece: a visão do bebê demônio parido por ela ainda o assustava demais). A sacerdotisa está, no momento, em Pedra do Dragão por ordem de Stannis. Tudo porque seus senhores disseram a ele que caso vencesse, diriam que foi pela feitiçaria cheia de ardis da mulher vermelha.

O plano de Stannis é até simples: assegurar seu controle nas águas da Torrente, atravessar o rio e tomar a margem norte, para assim começar o cerco da capital.

Para isso, além de seu destacamento em terra, tropas descerão na margem norte, para começar o ataque. O que, por sua vez, fez os sitiados lançarem surtidas pela margem. Uma destas surtidas aconteceu quando um dos navios apreendidos de Lorde Sunglass desembarcou seus arqueiros e homens de armas, atacados pelo Cão de Caça e seus homens, causando um barata boa dos arqueiros.

Quando as duas frotas estão quase se encontrando para combate, Davos ficou lá do timão espichando o pescoço para tentar ver quais navios estavam do lado inimigo, e vendo-os, ele se perguntou onde estavam o Martelo do Rei Robert, Estrela Leonina, Senhora Lyanna, Vento Ousado e Mar Ligeiro. Se voltarmos ao capítulo Tyrion IX, vamos nos lembrar que Myrcella foi a Dorne numa escolta de uns tantos navios, sendo que o Martelo foi a nau capitã e os demais sua escola.

E então finalmente houve o choque das frotas. Como Westeros ainda não dispões de armas de fogo, os combates se dão com catapultas e balestras de armamento, além da figura de proa ser feita propriamente para o movimento conhecido como abalroar: famoso encontrão de navios. E, é claro, a tripulação invadir o navio inimigo e tomá-lo.

Com toda a agitação do combate, os navios se misturam, alvos não apenas dos trabucos (apelidados de Rameiras pelos portorrealenses), mas também dos arqueiros e demais navios da frota Lannister.

Temos um vislumbre de fogovivo quando Davos abalroa o Vergonha da Senhora com o Betha Negra e o Senhora Marya, o que o faz ficar apreensivo. Aliás, Sor Imry havia previsto o uso da substância dos piromantes, dizendo que teriam pouco já que haviam tão poucos dos piromantes da guilda.

O combate continuou, agora visando outro navio quando se afastaram do fogovivo: o Veado Branco. Davos consegue tomar o navio, pensando que Sor Imry teria sua vitória e Stannis atravessaria o rio a um oneroso custo, mas Matthos o avisou do pior.

Dois navios de Stannis estão relativamente próximos de um terceiro, Lannister. O Fúria, nau capitânia (no meio da confusão), e o Peixe-Espada, batizado assim pela figura de proa particularmente grande que dava à embarcação a “cara de peixe-espada” — embora fosse muito grande para a embarcação e a deixasse desequilibrada.

Este segundo navio estava indo com toda a vontade para cima de uma barcaça Lannister, parada tolamente à sua frente. Mas o Cavaleiro das Cebolas notou que algo verde sangrava da embarcação.

Ele tentou avisar, mas já era tarde.

O Peixe-Espada abalroou a barcaça, e um fagulha fora acesa.

Com a explosão das armadilhas de fogovivo, começou o pequeno inferno na Torrente da Água Negra. Davos foi arremessado de seu navio, voando como um boneco de pano, se atrapalhando todo para conseguir chegar à superfície e usar um destroço qualquer como boia. Ele começa a nadar para a foz do rio, mas notou que, agora, as correntes foram puxadas um pouco menos de um metro da superfície da água, prendendo a frota de Stannis num matadouro alimentado por chamas esmeralda.

Momento Livro versus Série

Este capítulo em especial é bem no comecinho da Batalha (temporada 02, episódio 09). Ela acontece quase fielmente, mas com três detalhes particularmente distintos. Primeiro: Davos tem apenas um filho, Matthos, que morre na explosão de fogovivo. Segundo: a explosão é causada por Bronn. Terceiro: a batalha toda acontece à noite, não no pôr-do-sol, como lemos no capítulo.

Momento Ned Pomba

Mesmo com os capítulos do Davos tocando a magia (mais sutilmente ou não), este capítulo foi muito pé no chão, sem deixar espaço para teorias com um mínimo de possibilidade ou um das mais mirabolantes.

Momento Geografia

Como tudo acontece ali na vizinhança de Porto Real, um mapa da região, como vemos em Tyrion IX, já ajuda a entender como se deu a luta.

Cuzão Alert

Como Sor Imry tratou Davos por conta de seu nascimento, inclusive ignorando seus conselhos e assim evitar o pior, poderia ter salvado se não toda, boa parte da frota. Mas o pior aconteceu…

Momento Valar Morghulis

Bem, com a loucura causada com fogovivo, uma cabeça morreu neste capítulo. Morreram: Sor Imry Florent, os quatro irmãos Seaworth, Lorde Monford Velaryon, além, é claro, de toda uma boiada que fica sendo indigente. Aumentamos nossa contagem para 151 mortes.

Momento Joffrey

Sem Momento Joffrey hoje.

Momento Dracarys

Apesar de toda a batalha ser o ponto alto, eu gostei mesmo foi dos pensamentos do Cavaleiro das Cebolas, tanto de sua visão dos nobres, quanto de como ele conhece o rei a quem serve. Dificilmente direi que não há nada de bom nos capítulos do Davos.

Embora não seja o Momento Dracarys propriamente dito, acho interessante destacar toda a descrição de batalha do Martin. Mais de uma vez eu já ouvi que “o Martin não gosta de descrever batalhas. É só ver na Batalha do Ramo Verde: o Tyrion logo desmaia e terminou”.

Afirmações como esta acima mostram duas coisas. 1) quem fala isso não leu os livros com atenção. Martin tem uma descrição de combate muito boa (não chega ao nível de Bernard Cornwell), mas não é esse o foco do autor. 2) a pessoa está confundindo as memórias da série com os livros. No capítulo da Batalha do Ramo Verde, lemos toda a descrição de como Tyrion precisou se virar para lidar com o combate. A série optou por fazê-lo desmaiar com um pancada na cabeça porque não tinha orçamento. Ponto. Sem nem meio “ai” a mais.

O que Martin de fato brilha, no entanto, é toda a história e desenvolvimento da trama política, sem dar enfoque no combate. E isso faz com que muita gente ame os personagens, sem parecer que são ocos, ou até passageiros.

Imagem do mascote da coluna, Beterrabita. É o emoji do nerd de óculos e dentuço sorrindo, mas com a parte amarela pintada toscamente no paint num tom vermelho-beterraba e a armação do óculos pintada em tom verde-folha
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Dúvidas, críticas ou sugestões? Então vai lá no grupo do Hodor Cavalo, procura pela #BeterrabaLeitora e faz lá o seu comentário. Dia 17/02 farei outra coluna aqui no medium, respondendo as suas questões (se tiverem).

Na próxima Beterraba Leitora (dia 24/02), teremos o capítulo Tyrion XIII e mais da batalha.

Hodor!

Referências

01 — MARTIN, George R. R. As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis. Tradutor Jorge Candeias. 13ª reimpressão. São Paulo: Editora Leya, 2011.

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